Acadêmico de História na UFG, coordenador do DCE-UFG e membro da direção estadual do PCB. E-mail: paulowinicius@gmail.com
Não se mencionou, nas resoluções congressuais, a penúria que vive a Universidade Estadual de Goiás (UEG); na abertura da atividade, nada de falar da greve dos servidores técnico-administrativos das universidades federais por todo o País; também fizeram questão de esvaziar o debate sobre o Código Florestal dos latifundiários e desmatadores, recentemente aprovado na Câmara, de relatoria do deputado Aldo Rebelo, do PC do B.
De onde poderia se esperar algo, da oposição de esquerda, infelizmente o que se viu (com raras exceções) foi um jogo de vale-tudo para garantir uma função na diretoria executiva da entidade. Depois de eleitos, os diretores e suas respectivas correntes mal se comunicam até o próximo congresso. Amarradas à lógica institucional que rege a entidade, várias correntes da oposição de esquerda pautavam sua unidade quase que exclusivamente pela contabilidade de delegados que os levaria a ocupar mais espaço, deixando em segundo plano a discussão programática desse campo.
Nas bancadas da oposição de esquerda repetia-se a prática de “gincana”, em que cada um grita pra si mesmo, despolitizando o debate, valorizando os gritos de guerra, inviabilizando os painéis. No final, desconsidera-se o que está sendo lido ou defendido no plenário, prática da situação governista (PT, PC do B, PDT, PMDB, PTB e PSB) que é repetida e triste de se ver no campo dos lutadores.
Além do fato do congresso e suas resoluções não problematizarem a falta de recursos para a pesquisa em Goiás, a ausência de assistência estudantil para quem sai de sua cidade para estudar e a falta de qualidade das faculdades particulares que se multiplicam no Estado, tivemos um triste exemplo de eleição de delegados fantasmas na UFG. Justamente de onde se espera que venham lideranças juvenis que deem um alento para o mar de injustiças que assolam o País, vê-se exemplos de corrupção. A União da Juventude Socialista (UJS), juventude do PC do B, e a juventude da corrente Articulação de Esquerda do PT, fizeram um acordo de bastidores e confeccionaram crachás de delegados ao congresso da UNE mesmo sem terem sido eleitos, demonstrando o caráter burocratizado e fraudulento desse congresso e de tais organizações.
Fica a lição de que o movimento estudantil deve priorizar cada vez mais o movimento pela base e que de nada adianta a disputa por uma entidade nacional se não tivermos em mente em primeiro lugar qual projeto de universidade e de educação queremos. Destacaram-se, neste congresso da UNE, os debates paralelos e mobilizações para o Seminário Nacional de Universidade Popular, que colocaram em questão um ponto central: se as bandeiras do movimento estudantil não estiverem ligadas a um projeto estratégico de sociedade, para além do capitalismo, ficaremos disputando a qualquer custo estruturas estudantis burocratizadas que defendem vagamente uma “universidade pública, gratuita e de qualidade”, mesmo que esta sirva à manutenção das desigualdades sociais reinantes.
Mais que a lição dos erros, fica a motivação pelo acerto, a coragem para lutar por uma universidade que atenda às necessidades da maioria trabalhadora da população, tal qual fez a UNE em outros tempos. Uma universidade preocupada com os problemas de transporte, que denuncie a especulação imobiliária e a devastação do Cerrado. Tal qual os estudantes do Chile, que neste momento vão às ruas para defender verba pública só para educação pública — bem diferente do que a UNE defende —, o movimento estudantil se faz vivo também em Goiás e no Brasil, na luta pelo passe livre e pela universidade popular.
Fernando Leite/Jornal Opção |
Mais um congresso da União Nacional dos Estudantes em Goiânia e pouco pôde ser aproveitado, pelos estudantes, das atividades na programação. Funcionando como moeda de troca na relação do PC do B com o governo federal, a direção da entidade fez de tudo para prestigiar o ex-presidente Lula, ministros de governo e funcionários de todos os escalões, afirmando-se como correia de transmissão das políticas governamentais junto aos estudantes.
O congresso, bancado com muito dinheiro do governo do PT e também do governo goiano do PSDB — que, aliás, ilustrava um boletim interno do congresso com seus “feitos” pela educação em Goiás — afirmou a UNE como entidade que se presta a jogar uma nuvem de fumaça acerca dos reais problemas enfrentados pelos estudantes brasileiros.
O congresso, bancado com muito dinheiro do governo do PT e também do governo goiano do PSDB — que, aliás, ilustrava um boletim interno do congresso com seus “feitos” pela educação em Goiás — afirmou a UNE como entidade que se presta a jogar uma nuvem de fumaça acerca dos reais problemas enfrentados pelos estudantes brasileiros.
Não se mencionou, nas resoluções congressuais, a penúria que vive a Universidade Estadual de Goiás (UEG); na abertura da atividade, nada de falar da greve dos servidores técnico-administrativos das universidades federais por todo o País; também fizeram questão de esvaziar o debate sobre o Código Florestal dos latifundiários e desmatadores, recentemente aprovado na Câmara, de relatoria do deputado Aldo Rebelo, do PC do B.
De onde poderia se esperar algo, da oposição de esquerda, infelizmente o que se viu (com raras exceções) foi um jogo de vale-tudo para garantir uma função na diretoria executiva da entidade. Depois de eleitos, os diretores e suas respectivas correntes mal se comunicam até o próximo congresso. Amarradas à lógica institucional que rege a entidade, várias correntes da oposição de esquerda pautavam sua unidade quase que exclusivamente pela contabilidade de delegados que os levaria a ocupar mais espaço, deixando em segundo plano a discussão programática desse campo.
Nas bancadas da oposição de esquerda repetia-se a prática de “gincana”, em que cada um grita pra si mesmo, despolitizando o debate, valorizando os gritos de guerra, inviabilizando os painéis. No final, desconsidera-se o que está sendo lido ou defendido no plenário, prática da situação governista (PT, PC do B, PDT, PMDB, PTB e PSB) que é repetida e triste de se ver no campo dos lutadores.
Além do fato do congresso e suas resoluções não problematizarem a falta de recursos para a pesquisa em Goiás, a ausência de assistência estudantil para quem sai de sua cidade para estudar e a falta de qualidade das faculdades particulares que se multiplicam no Estado, tivemos um triste exemplo de eleição de delegados fantasmas na UFG. Justamente de onde se espera que venham lideranças juvenis que deem um alento para o mar de injustiças que assolam o País, vê-se exemplos de corrupção. A União da Juventude Socialista (UJS), juventude do PC do B, e a juventude da corrente Articulação de Esquerda do PT, fizeram um acordo de bastidores e confeccionaram crachás de delegados ao congresso da UNE mesmo sem terem sido eleitos, demonstrando o caráter burocratizado e fraudulento desse congresso e de tais organizações.
Fica a lição de que o movimento estudantil deve priorizar cada vez mais o movimento pela base e que de nada adianta a disputa por uma entidade nacional se não tivermos em mente em primeiro lugar qual projeto de universidade e de educação queremos. Destacaram-se, neste congresso da UNE, os debates paralelos e mobilizações para o Seminário Nacional de Universidade Popular, que colocaram em questão um ponto central: se as bandeiras do movimento estudantil não estiverem ligadas a um projeto estratégico de sociedade, para além do capitalismo, ficaremos disputando a qualquer custo estruturas estudantis burocratizadas que defendem vagamente uma “universidade pública, gratuita e de qualidade”, mesmo que esta sirva à manutenção das desigualdades sociais reinantes.
Mais que a lição dos erros, fica a motivação pelo acerto, a coragem para lutar por uma universidade que atenda às necessidades da maioria trabalhadora da população, tal qual fez a UNE em outros tempos. Uma universidade preocupada com os problemas de transporte, que denuncie a especulação imobiliária e a devastação do Cerrado. Tal qual os estudantes do Chile, que neste momento vão às ruas para defender verba pública só para educação pública — bem diferente do que a UNE defende —, o movimento estudantil se faz vivo também em Goiás e no Brasil, na luta pelo passe livre e pela universidade popular.
O texto "Congresso da UNE, da lama ao caos" foi originalmente publicado no Jornal Opção: http://www.jornalopcao.com.br/posts/cartas/congresso-da-une-da-lama-ao-caos
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