TIAGO VIEIRA
Presidente da Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD) e membro da direção da Juventude Comunista Portuguesa (JCP)
Sob o lema «Fortalecer a FMJD, reforçar a luta juvenil anti-imperialista, por um mundo de paz, solidariedade e transformações sociais revolucionárias», esta assembleia reunirá em Lisboa jovens de cerca de cem países do mundo, que, como o lema indica, durante 5 dias se debruçarão sobre a continuidade e reforço da luta da juventude através desse poderoso instrumento internacional que é esta Federação.
A par com as actividades da Assembleia, o facto de esta assembleia se realizar em Portugal é, em si mesmo, um duplo reconhecimento para a JCP: primeiro, pela luta que ao lado da juventude portuguesa trava contra a ofensiva aos direitos juvenis; segundo, pelo trabalho positivo desenvolvido nestes últimos 8 anos (dois mandatos) em que presidiu a FMJD.
Além disto, mesmo não antecipando decisões que apenas em Novembro serão tomadas, a realização da assembleia da FMJD em Portugal é também um sinal de compromisso com a continuidade da linha anti-imperialista até agora seguida e que se tem provado acertada face à brutal ofensiva vivida pela juventude e os povos nos quatro cantos do mundo.
Por último, embora seja apenas um pormenor, vale a pena sublinhar que esta assembleia se realiza no dia do 66.º aniversário da FMJD e 32.º da JCP (10 de Novembro), efemérides que serão devidamente assinaladas com expressões políticas e culturais de massas.
Para melhor compreendermos a Assembleia que vamos acolher daqui a meio ano é importante olharmos para o passado e vermos qual a história desta organização e para onde vai ela agora, em pleno século XXI, mais de seis décadas depois da sua fundação.
De onde vimos
A FMJD é fundada em 1945 após o que se pode considerar, em sentido lato, um amplo processo preparatório. Iniciado em 1942 com várias reuniões internacionais (Washington, Cidade do México e Londres) e inclusivamente com a fundação de uma estrutura mundial de juventude (o Conselho Mundial da Juventude – CMJ), o processo de mobilização e preparação culmina em Novembro de 1945, em Londres, no imponente Royal Albert Hall, com a realização da Conferência Mundial de Juventude.
Aí, após a retumbante vitória dos povos sobre o nazi-fascismo, os jovens do mundo viriam a extinguir o CMJ e fundar a FMJD. Sob a consigna «Avante, por uma paz duradoura», jovens de 64 países de todo o mundo, que representavam 30 milhões de outros jovens através das suas organizações, fizeram do momento da fundação da FMJD um momento memorável, com um estrondoso impacto em todo o mundo tanto nos seus dias como para o futuro e até hoje.
Apenas meio ano depois da libertação de Berlim pelo Exército Vermelho, os jovens do mundo celebravam esta vitória sobre a mais negra ameaça que se abateu sobre a humanidade, olhando o futuro com esperança e alegria, mas não sem preocupações e horizontes múltiplos de luta.
Na Europa permaneciam vivos (embora temporariamente um pouco abalados) vários regimes ditatoriais, incluindo o fascismo português, e procuravam reabilitar-se os generais de Hitler para o que viria a ser futura República Federal Alemã. A par disto, os jovens assumiam como prioridade a reconstrução solidária e soberana dos vastíssimos escombros da guerra.
No resto do mundo, era agora tempo de dar toda a força à luta anti-conolial e enfim libertar todos os povos que por séculos e séculos vinham sendo oprimidos pela força colonizadora de vários países europeus, particularmente o Reino Unido, França e Portugal. Diga-se, como nota histórica, que a FMJD sentiu bem na pele essa realidade quando, em 1947, viu a sua sede (em Paris desde a fundação) interditada e foi «convidada a sair» pelo governo francês que se sentia «desconfortável» com o apoio firme e dinâmico da Federação ao povo vietnamita na luta contra o colonialismo francês. Desde então e até hoje a sede é em Budapeste, Hungria.
Era este o contexto internacional e não havia qualquer espaço para ilusões ou expectativas de abrandamento por parte do imperialismo. O lançamento da bomba atómica dos EUA sobre Hiroshima e Nagasaki (já depois da rendição japonesa) mostrou ao mundo que a luta tinha de continuar e que novos desafios estavam já sobre a mesa e perante os povos e os jovens do mundo. Parar era, então, literalmente, morrer.
Deste modo, a criação e reforço da FMJD eram uma pedra angular da necessária e urgente unidade anti-imperialista dos povos. Convictos e determinados, os jovens do mundo foram então, e até hoje, capazes de construir a mais importante organização juvenil anti-imperialista – pólo de coordenação de esforços de centenas de organizações juvenis (membros e não só) na luta pela paz e pelos direitos da juventude em inúmeras actividades de solidariedade internacional por todo o mundo; destas, destacam-se pela sua dimensão os Festivais Mundiais da Juventude e dos Estudantes, como palco maior da luta internacional contra o imperialismo pela sua expressão de massas e conteúdo vincadamente anti-imperialista. A este propósito, diga-se que a criação do movimento dos Festivais foi também ela tomada em Londres, em Novembro de 1945, a par com a fundação da FMJD.
Por onde passámos
Ao longo de quatro décadas e meia, a FMJD prestigiou-se e cresceu, tornou-se conhecida internacionalmente através das suas actividades e das suas organizações-membro que por todo o mundo assumiam a vanguarda da luta contra o imperialismo. Também no plano institucional esse reconhecimento valeu o estatuto consultivo junto da Comissão para os Assustos Sociais e Económicos da ONU, relações de cooperação estreita com a UNESCO e, em 1987, o prémio «Mensageiro da Paz», dado pelas mãos do Secretário-Geral da ONU.
No entanto, os tempos conturbados para os povos e o movimento anti-imperialista, aquando do desaparecimento do bloco socialista e da própria União Soviética nos finais da década de 80 e início da década de 90, tiveram também impacto imenso na vida da FMJD.
De facto, os problemas foram de vária ordem. Por um lado, as dificuldades decorrentes da alteração da correlação de forças mundial traduziu-se no desaparecimento e/ou enfraquecimento substancial da generalidade das organizações-membro. Por outro lado, o ataque à FMJD tornou-se mais directo e os agentes do imperialismo não hesitaram em «pôr as garras de fora», tentando destruir a Federação – por exemplo, no início da década de 90 o governo húngaro tentou expulsar a FMJD da Hungria, mas, mesmo não sendo capaz, conseguiu deslocar a estrutura da Federação para a periferia de Budapeste para um imóvel bem longe e bem pior daquele onde até aos anos 90 a FMJD estivera sediada; ou ainda, também por essa altura, diferentes autoridades húngaras procuraram comprar todos os arquivos da FMJD tendo mesmo chegado a oferecer 10 000 dólares pela totalidade desse arquivo histórico.
Porém, a par com dificuldades e inimigos externos, graçava no seio da FMJD uma corrente liquidacionista que, à semelhança do que se passou em muitas organizações e partidos, procurava impor no plano internacional (e na FMJD, em particular) uma linha de auto-destruição, fosse por via da simples dissolução da Federação, ou por via da alteração da sua matriz político-ideológica assente em ingenuidades hipócritas como «será que ainda há imperialismo?» ou acertivas declarações de capitulação de simplesmente alinhar com a ideia de que «o fim da história» havia chegado e que, nesse quadro, se deveria reconfigurar na totalidade a FMJD, começando pela caracterização que fazia do mundo e do imperialismo, até aos seus objectivos.
É precisamente neste contexto, numa tentativa de relançar a FMJD e de contribuir para a sua afirmação de grande instrumento da luta juvenil anti-imperialista, que a JCP, em 1995, decide propôr-se a acolher a 14.ª Assembleia da FMJD.
Na verdade, esta Assembleia, realizada no Seixal, foi um importante ponto de viragem da FMJD, permitindo que se reafirmasse inequivocamente a FMJD como organização juvenil anti-imperialista e eleger uma direcção que pusesse em prática estas orientações em todos os continentes do mundo. Vale a pena sublinhar que nada disto teria sido possível sem o esforço colectivo de várias organizações de diferentes pontos do globo que, lado a lado com a JCP (que teve a coragem de acolher esta Assembleia sem ter a certeza do que dela resultaria), criaram as condições para esta importante vitória que foram as conclusões da Assembleia e o que isso viria a significar nos anos seguintes.
Na senda do êxito que foi essa Assembleia, realizou-se em 1997 o 14.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Havana (Cuba), confirmando com expressão de massas aquilo que a Assembleia de Portugal havia decidido e relançando após 8 anos de interregno o movimento dos Festivais.
Vale ainda a pena destacar importantes momentos como foram a 15.ª Assembleia, realizada em Larnaca (Chipre) em 1999, que viria a dar mais profundidade às conclusões de 1995 e a eleger uma direcção mais capaz de as concretizar; assim como as 16.ª (Havana – Cuba) e 17.ª (Hanói – Vietname) em que não apenas se aprofondou a linha política da organização como, e não menos importante, foi eleita a JCP para a sua presidência.
Para onde vamos
Ao chegar a Portugal, os delegados que participarão na 18.ª Assembleia da FMJD, encontrarão uma Federação bem diferente daquela que em 1995 se reuniu no Seixal. Os 16 anos que separam estas assembleias foram anos de intenso reforço orgânico, de dezenas de novas adesões e reactivação de organizações que, já sendo membros, por dificuldades haviam perdido contacto. A intervenção da FMJD e as suas linhas-mestras são hoje um complexo mapa de iniciativas nacionais e internacionais que inundam os calendários da FMJD e que exigem uma equilibrada gestão de meios e de prioridades. No plano político, hoje o momento é mais favorável e a existência do imperialismo como estádio superior do capitalimo, assim como a necessidade de o combater, são hoje aspectos inquestionáveis da vida da Federação.
No entanto, desengane-se quem pensar que esta Assembleia e os anos depois dela serão como um «passeio no parque«. A agudização da ofensiva contra os trabalhadores, os povos e, em especial, as novas gerações, torna o debate em torno dos caminhos para a luta que temos de desenvolver mais complexo, tanto no plano da análise como no plano da sua concretização nas formas e conteúdos da intervenção.
A juntar a isto, também a própria realidade é mais complexa e desafiante. Apenas para focar alguns, aqui fica, sem qualquer ordem especial, uma parte dos temas que seguramente marcarão as discussões desta Assembleia: a crise sistémica do capitalismo, o novo fôlego dado a válvulas de escape do sistema (os ditos «movimentos espontâneos»), a emergência de novas potências capitalistas com ambições de disputa dos mercados tradicionalmente enfeudados aos EUA e à União Europeia, a proliferação de novas tecnologias (potencialidades, ilusões e desilusões), a sofisticação dos mecanismos de repressão, controlo e impedimento das liberdades e direitos democráticos, o agravamento dos problemas ambientais e as concepções individualistas/auto-responsabilizadoras sobre o assunto, a proliferação e sofisticação de formas de flexibilidade e precariedade laborais, a política de alianças (diluição versus estreitamento versus unidade), a crescente militarização do globo e o perigo crescente de um novo confronto à escala global de consequências imprevisíveis para a humanidade.
Por fim, e para além dos necessários preparativos que estão a ser feitos no plano nacional e internacional, resta a certeza que antes, durante e após esta Assembleia, o maior contributo que podemos dar à FMJD é o de prosseguir a nossa luta em Portugal contra as múltiplas expressões da brutal ofensiva que vive o nosso povo. A nossa luta é a garantia de que, independentemente da responsabilidade que tenhamos na Federação (ou qualquer outra plataforma) ou das conjunturas internacionais, estamos a concretizar aquilo para que existimos e por que nos organizamos e que é a melhor das formas de solidariedade internacional: alcançar a vitória, construir um Portugal justo, soberano e desenvolvido!
Porém, a par com dificuldades e inimigos externos, graçava no seio da FMJD uma corrente liquidacionista que, à semelhança do que se passou em muitas organizações e partidos, procurava impor no plano internacional (e na FMJD, em particular) uma linha de auto-destruição, fosse por via da simples dissolução da Federação, ou por via da alteração da sua matriz político-ideológica assente em ingenuidades hipócritas como «será que ainda há imperialismo?» ou acertivas declarações de capitulação de simplesmente alinhar com a ideia de que «o fim da história» havia chegado e que, nesse quadro, se deveria reconfigurar na totalidade a FMJD, começando pela caracterização que fazia do mundo e do imperialismo, até aos seus objectivos.
É precisamente neste contexto, numa tentativa de relançar a FMJD e de contribuir para a sua afirmação de grande instrumento da luta juvenil anti-imperialista, que a JCP, em 1995, decide propôr-se a acolher a 14.ª Assembleia da FMJD.
Na verdade, esta Assembleia, realizada no Seixal, foi um importante ponto de viragem da FMJD, permitindo que se reafirmasse inequivocamente a FMJD como organização juvenil anti-imperialista e eleger uma direcção que pusesse em prática estas orientações em todos os continentes do mundo. Vale a pena sublinhar que nada disto teria sido possível sem o esforço colectivo de várias organizações de diferentes pontos do globo que, lado a lado com a JCP (que teve a coragem de acolher esta Assembleia sem ter a certeza do que dela resultaria), criaram as condições para esta importante vitória que foram as conclusões da Assembleia e o que isso viria a significar nos anos seguintes.
Na senda do êxito que foi essa Assembleia, realizou-se em 1997 o 14.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Havana (Cuba), confirmando com expressão de massas aquilo que a Assembleia de Portugal havia decidido e relançando após 8 anos de interregno o movimento dos Festivais.
Vale ainda a pena destacar importantes momentos como foram a 15.ª Assembleia, realizada em Larnaca (Chipre) em 1999, que viria a dar mais profundidade às conclusões de 1995 e a eleger uma direcção mais capaz de as concretizar; assim como as 16.ª (Havana – Cuba) e 17.ª (Hanói – Vietname) em que não apenas se aprofondou a linha política da organização como, e não menos importante, foi eleita a JCP para a sua presidência.
Para onde vamos
Ao chegar a Portugal, os delegados que participarão na 18.ª Assembleia da FMJD, encontrarão uma Federação bem diferente daquela que em 1995 se reuniu no Seixal. Os 16 anos que separam estas assembleias foram anos de intenso reforço orgânico, de dezenas de novas adesões e reactivação de organizações que, já sendo membros, por dificuldades haviam perdido contacto. A intervenção da FMJD e as suas linhas-mestras são hoje um complexo mapa de iniciativas nacionais e internacionais que inundam os calendários da FMJD e que exigem uma equilibrada gestão de meios e de prioridades. No plano político, hoje o momento é mais favorável e a existência do imperialismo como estádio superior do capitalimo, assim como a necessidade de o combater, são hoje aspectos inquestionáveis da vida da Federação.
No entanto, desengane-se quem pensar que esta Assembleia e os anos depois dela serão como um «passeio no parque«. A agudização da ofensiva contra os trabalhadores, os povos e, em especial, as novas gerações, torna o debate em torno dos caminhos para a luta que temos de desenvolver mais complexo, tanto no plano da análise como no plano da sua concretização nas formas e conteúdos da intervenção.
A juntar a isto, também a própria realidade é mais complexa e desafiante. Apenas para focar alguns, aqui fica, sem qualquer ordem especial, uma parte dos temas que seguramente marcarão as discussões desta Assembleia: a crise sistémica do capitalismo, o novo fôlego dado a válvulas de escape do sistema (os ditos «movimentos espontâneos»), a emergência de novas potências capitalistas com ambições de disputa dos mercados tradicionalmente enfeudados aos EUA e à União Europeia, a proliferação de novas tecnologias (potencialidades, ilusões e desilusões), a sofisticação dos mecanismos de repressão, controlo e impedimento das liberdades e direitos democráticos, o agravamento dos problemas ambientais e as concepções individualistas/auto-responsabilizadoras sobre o assunto, a proliferação e sofisticação de formas de flexibilidade e precariedade laborais, a política de alianças (diluição versus estreitamento versus unidade), a crescente militarização do globo e o perigo crescente de um novo confronto à escala global de consequências imprevisíveis para a humanidade.
Por fim, e para além dos necessários preparativos que estão a ser feitos no plano nacional e internacional, resta a certeza que antes, durante e após esta Assembleia, o maior contributo que podemos dar à FMJD é o de prosseguir a nossa luta em Portugal contra as múltiplas expressões da brutal ofensiva que vive o nosso povo. A nossa luta é a garantia de que, independentemente da responsabilidade que tenhamos na Federação (ou qualquer outra plataforma) ou das conjunturas internacionais, estamos a concretizar aquilo para que existimos e por que nos organizamos e que é a melhor das formas de solidariedade internacional: alcançar a vitória, construir um Portugal justo, soberano e desenvolvido!
O texto "A caminho de Portugal para a 18.ª Assembleia da FMJD!" foi originalmente publicado no número 313 do jornal O Militante: http://www.omilitante.pcp.pt/pt/313/Juventude/613/A-caminho-de-Portugal-para-a-18%C2%AA-Assembleia-da-FMJD!.htm
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