quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Londres chamando: a destruição dá um beijo na boca da sucursal do Império

RODRIGO LIMA E MARIÂNGELA MARQUES
Membros da Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC)


Londres chama para as cidades distantes
Agora aquela guerra está declarada e a batalha começa
Londres chama para o submundo
Saiam do armário todos os garotos e garotas
Londres chama, agora não olhem pra nós
"London Calling" - The Clash

Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento
Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem
Bertolt Brecht

Os grandes meios de comunicação mundial tem repercutido, desde o último sábado, a forte onda de violência que se espalha feito rastilho de pólvora na Inglaterra.

Originadas no bairro popular de Tottenham, no norte da capital, os confrontos se espalharam para as demais regiões e para o centro da cidade, além de tomar as ruas de cidades como Liverpool, Leeds, Manchester e Birmingham.

A imprensa burguesa tem atribuído os conflitos como um ataque de hordas de criminosos e delinquentes, procurando vincular as causas da violência e do caos à diversidade étnica presente na periferia de Londres, criminalizando africanos, caribenhos e latinos como os grandes responsáveis pelas manifestações que vem se intensificando no país.

Nada mais “natural” por parte dos grandes meios de comunicação em tempos de xenofobismo e racismo crescentes no velho continente.

A ferida que a imprensa burguesa e o governo britânico não querem tocar é o fato de o estopim dessa revolta não ter sido, unicamente, o assassinato de um trabalhador pelas mãos da polícia.

É, na verdade, um reflexo dos efeitos das contradições do capitalismo em sua fase mais desenvolvida e das medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo conservador de James Cameron, que simplesmente produziu a maior contenção de gastos públicos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Essa política fez aumentar o desemprego, que tem afetado, sobremaneira, os jovens e os imigrantes.

A combinação de altas taxas de desemprego somadas aos cortes nas áreas sociais é uma receita explosiva que fez ferver um caldo de revolta adormecido na periferia da cidade. Somem-se a isso os elevados gastos em obras para as Olimpíadas de 2012, que já chegam à quantia de R$ 23,5 bilhões, e a bomba está pronta.

Muito se tem noticiado sobre as revoltas ocorridas na década de 1980 em bairros populares de Londres.

Há, certamente, uma linha que unifica estas manifestações com as ocorridas atualmente.

As políticas governamentais da Dama de Ferro e as de Cameron têm mais semelhanças que diferenças. Os jovens trabalhadores de hoje se deparam com um cenário de poucas perspectivas de trabalho, educação e lazer no curto e no médio prazo.

A válvula de escape é a violência.

Como uma onda estas manifestações tendem a se intensificar, colocando em xeque o aparato policial inglês e o próprio sistema, mas sem uma direção política revolucionária do movimento, ele tende a ser rapidamente contido e reprimido.

Não se pode super-estimar essa revolta como um principio de revolução social ou algo do gênero.

Ao contrário das manifestações juvenis presenciadas na Primavera Árabe, na Grécia, na Espanha ou no Chile, que apresentam um programa mínimo de reivindicações, as manifestações inglesas primam por um caráter espontaneísta que, dificilmente, refletirá em um acúmulo na organização dos jovens trabalhadores da Inglaterra, porém, por outro lado, estas mobilizações mostram o poder que os jovens têm em suas mãos e que, quando se voltam contra o sistema, podem colocá-lo em crise, revelando suas mais profundas contradições que, muitas vezes, permanecem adormecidas e ofuscadas pela ideologia dominante.

Quem sabe estes dias de caos e desordem na terra da Rainha não plante algumas sementes nas possibilidades de organização da juventude contra um rio chamado capitalismo que, em épocas de crise, faz suas margens reprimir e sufocar ainda mais as possibilidades de emancipação da juventude e da classe trabalhadora.

Cabe aos jovens ingleses fazerem este rio transbordar de revolta organizada que possa, quem sabe, não só sacudir as bases do sistema como, também, fazê-lo cair de seu pedestal em uma perspectiva de um novo modelo de sociedade, o Socialismo.

Mas para isso não bastam palavras.

É preciso organização, teoria e prática.

Com certeza neste último quesito as batalhas que se travam nas periferias da Inglaterra e do Mundo servem como uma grande escola para as mudanças que a juventude e os trabalhadores tanto precisam construir.

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