DA REDAÇÃO DO SITE FAZENDO MEDIA - 29/04/2011
“É impensável pensar essa rearticulação da UJC, dentro dessa linha revolucionária, separada do próprio processo de reconstrução do PCB. A UJC só consegue se reorganizar em 2006, quando o partido formaliza uma posição sobre sua visão estratégica da sociedade brasileira”, afirma Luís Fernandes, integrante da coordenação nacional da UJC. Vencidos os processos autofágicos internos, o PCB volta a se estruturar, principalmente no início deste século. E volta a visualizar a necessidade de se organizar a juventude. Em 2006, depois de muitos anos, a UJC consegue organizar um congresso nacional. Viria a se articular novamente, em 2009, para dar vida a novo congresso.
A partir dessa melhor organização, com linha estratégica definida e militância ativa, a UJC começa a ganhar corpo novamente, e formar quadros qualificados. Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB e candidato à Presidência da República em 2010, avalia com otimismo o crescimento da organização. “A UJC não garantirá apenas um futuro burocrático para o PCB, mas um futuro revolucionário e internacionalista. É a primeira geração de comunistas que não viveram as deformações do reformismo que prevaleceu no PCB em décadas passadas e que entrou no Partido em pleno processo de sua reconstrução revolucionária”. Hoje, a UJC está organizada em, pelo menos, 15 estados, com boa intervenção, fazendo discussões específicas da juventude.
Em alguns estados, é mais forte entre a juventude trabalhadora. Em outros, articula-se com maior consistência dentro do movimento estudantil, ou mesmo junto ao movimento cultural – uma tradição entre os comunistas. Devido às dificuldades financeiras, e à ausência no universo institucional – o que não consideram problema –, os jovens não conseguem manter militantes voltados exclusivamente para a organização. No entanto, têm uma preocupação crescente com a qualificação de seus quadros. “A gente tem hoje uma linha estratégica bastante coerente e coesa. Não queremos virar uma organização inchada, sem intervenção qualitativa na sociedade. A gente quer crescer, ganhar capilaridade, mas o que a gente mais preza é ter uma intervenção qualitativa”, afirma Luís.
Uma das estratégias da UJC para ampliar sua atuação política, com ganhos qualitativos, é a parceria com a sociedade organizada. Seus jovens militantes estão, cada vez mais, articulados com os movimentos sociais, buscando protagonismo nas lutas da cidade e do campo. Maurício Souza, integrante da coordenação estadual da organização no Rio de Janeiro, vê na cidade um grande palco de lutas para os próximos anos. “No Rio, estão varrendo tudo o que não interessa. O objetivo é sustentar esse modelo de crescimento, esse desenvolvimento tardio que no Brasil se tem apregoado por todos os cantos, inclusive por certos setores que se dizem de esquerda. A UJC tem clareza de quem são os movimentos populares que lutam contra essa ordem, e está se unindo a eles”, diz. A luta por moradia e pelos direitos humanos têm sido os principais focos de atuação dos jovens comunistas.
Recentemente, tiveram importante atuação na organização do II Seminário da Plenária dos Movimentos Sociais. O espaço é uma articulação de movimentos populares mais combativos, em oposição ao modelo de desenvolvimento em curso no Estado do Rio, de forte ação predatória, e aos projetos elitistas relacionados aos megaeventos esportivos a ser recebidos no Brasil. O Seminário reuniu centenas de militantes interessados em dar unidade à difícil resistência prevista para os próximos cinco anos. “O diagnóstico coletivo, na Plenária, foi correto, sobre essa agenda econômica de estruturação do capital – a ideia de que existe um consenso burguês, e de que o Rio está no centro dele. Mas a gente não pode ter a ilusão de que, porque o diagnóstico está correto, a gente vai ganhar as lutas. A correlação de forças, aqui no Rio, infelizmente é bastante desfavorável para os movimentos e partidos de esquerda”, defende Luís.
Outra luta importante em que a UJC esteve presente foi a resistência dos moradores do Complexo do Alemão aos saques, agressões, humilhações e estupros promovidos pelas forças policiais e militares, após a ocupação de 2010. A organização esteve presente na coleta de denúncias, na sistematização dos dados, na publicização das informações, e na divulgação de uma nota pública. “A partir das denúncias que estavam sendo feitas, a gente foi até as comunidades. A cobertura oficial estava homogeneizando as coisas, como se a operação tivesse sido um sucesso. No Complexo do Alemão, a gente ouvia os policiais dizendo que era um modelo a ser levado para todo o Brasil. Achavam um sucesso”, afirma Fernanda Macharet, que também integra a coordenação estadual. “Surge, então, a partir da articulação com entidades de direitos humanos, a necessidade de fazer alguma intervenção. Divulgamos o relatório e a nota pública. Foi a partir disso que a imprensa começa a denunciar policiais envolvidos com corrupção. Geramos algum movimento do Estado”, completa.
Mais do que um partido de bermudas
Talvez devido ao doloroso processo de fragmentação que sofreram ao longo de vários anos, os jovens comunistas têm uma visão madura de sua nova inserção no processo político. Afirmam que reivindicam tanto os acertos quanto reconhecem os erros da organização, e do PCB, ao longo da História. Até porque, como fazem questão de frisar, a UJC esteve envolvida nas mesmas polêmicas do partidão – como o posicionamento quanto à adesão ou não à luta armada, nos anos 1960. “A gente não tem mais aquela ilusão de que os partidos comunistas sejam os portadores da verdade no processo revolucionário”, explica Luís Fernandes. “Mas permanece o sentimento de que o socialismo é uma necessidade concreta do movimento da humanidade. A solução para os problemas sociais, econômicos, ambientais, culturais perpassa pela criação de uma nova fórmula de organização da vida”, diz.
Por isso, uma nova forma de atuação da UJC é construir projetos de intervenção em conjunto com os movimentos sociais. No universo acadêmico, eles estão desenvolvendo o Universidade Popular. “Estamos construindo esse projeto ouvindo os mais diversos setores”, explica Fernanda Macharet. Entretanto, inserem seu planejamento num tipo de militância que, dizem, se diferencia da linha de outras organizações ligadas a outros partidos. “A nossa diferença de intervenção é tentar construir um projeto para além das demandas imediatas do estudante”, explica Luís. Dessa articulação com outros setores, sonham construir a mesma frente antiimperialista e anticapitalista, de caráter contra-hegemônico, que o PCB tem defendido desde as eleições presidenciais de 2006.
Mesmo na maneira como se articulam com os movimentos, não buscam o mesmo protagonismo do passado. “A gente não tem a pretensão de ser o dono do processo. Temos que conhecer essas lutas, e fazer a mediação com a nossa linha estratégica, que é de ruptura. É assim que tentamos nos articular com os movimentos sociais nas diversas frentes”, defende Maurício Souza. Os jovens se organizam de forma diferente do partido. Não têm um secretário geral, mas uma secretaria geral colegiada, nacional. “Não é um minipartido político. A gente tenta ter outro formato. Temos os nossos núcleos, e as lutas transversais – o militante que atua junto ao MST, o que está na luta pela moradia, pelos direitos humanos, etc”, afirma Luís. A julgar pela alegria como expõe sua estratégia, seu avanço político não tende a ser um voo de galinha.
A tradição do jovem
Fundada em agosto de 1927, a UJC foi a primeira organização da juventude de esquerda da História do Brasil. Com influencia crescente, vai ter uma atuação importante no processo de formulação da União Nacional dos Estudantes (UNE). Basta dizer que o único fundador vivo da UNE é Irun Santana, ex-integrante da UJC. A juventude comunista começa, então, a elaborar um esboço de formulação sobre a realidade brasileira. Logo em 1928, organizam seu primeiro congresso. Já era, desde o início, tempo de forte repressão por parte do Estado contra o comunismo. Os anos se seguem e a história da juventude do partidão será sempre de altos e baixos. Ora governos reprimem e levam a organização à fragmentação, ora eles ser articulam e retomam força.
O momento de maior estrangulamento é a década de 1970. Após a forte repressão por parte da ditadura civil militar (1964-1985), o partido tem grande dificuldade de se manter – sobretudo de organizar sua juventude. Nos anos 1960, a formação do PCdoB – e sua União da Juventude Socialista (UJS) – já fragmentara a luta comunista. E em 1992, com o revés soviético, a maioria dos dirigentes do PCB decide fundar um novo partido. Surge o Partido Popular Socialista (PPS) – que hoje, na oposição ao governo Dilma, se alinha com o PSDB e o DEM. Debilitado, o PCB começa a articular seu erguimento. O consenso neoliberal do período, entretanto, freia maiores voos. É apenas na década de 2000 que ele se reestrutura. A UJC ganha fôlego novo a partir de 2006. Para o próximo congresso, em 2012, prevêem mais de 300 delegados. Estão convictos de que dias melhores estão guardados para o futuro.
O texto "O comunismo jovem do Partidão" foi originalmente publicado no site Fazendo Media: http://www.fazendomedia.com/o-comunismo-jovem-do-partidao/
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