A UJC/POA
encontra-se em processo de reorganização e, infelizmente, nossa participação
junto aos companheiros na construção do movimento estudantil da UFRGS não foi
possível. Por conta do número reduzido de militantes priorizamos a construção
do Bloco de Luta pelo Transporte Público. Por consequência, não compomos
nenhuma chapa para disputar o processo eleitoral para o DCE da UFRGS neste ano.
Entretanto,
visando a necessária construção de uma unidade entre as esquerdas, tanto no
movimento estudantil quanto nos movimentos sociais, decidimos apoiar a chapa 1.
Nossa decisão levou em conta o fato de que essa era a chapa que tinha o
respaldo da maioria da esquerda aqui em Porto Alegre, além de unificar o apoio
de diferentes forças e ideologias que foram fundamentais nas lutas deste ano.
Isso não
significa que temos problemas ou discordâncias sérias com os companheiros das
outras chapas de esquerda. Porém nós, da UJC, priorizaremos e trabalharemos
pela unidade nos movimentos sociais. Entendemos que o próximo ano será um ano
intenso de lutas sociais e, por isso, desejamos estar presentes na construção
de uma unidade sólida com os setores combativos. Necessitamos da presença dos
camaradas nos movimentos sociais, nas ruas, nas discussões e nas instâncias que
unem a esquerda portoalegrense. Enxergamos a unidade como algo construído no
decorrer da luta, e não como algo a ser tratado somente em época de campanha,
como reflexo do processo eleitoral burguês.
O ano de
2013 foi um ano politicamente atípico, no qual as manifestações de rua
obtiveram um protagonismo que conseguiu colocar as eleições do ano que vem em
segundo plano. Possivelmente teremos manifestações ainda maiores do que as
deste ano durante a Copa do Mundo.
Visando
desde já o próximo ano chamamos a atenção para a necessidade de uma análise
mais cautelosa e crítica a respeito do mês de junho aqui em Porto Alegre.
Também necessitamos compartilhar com os companheiros uma análise a respeito do
processo eleitoral deste ano na UFRGS.
Não nos
faltam exemplos de momentos históricos onde a direita se organizou diante dos
levantes populares, sendo capaz de impôr as suas pautas às massas. Dessa forma
enxergamos com preocupação a capacidade de resposta demonstrada pela direita em
junho.
Sem
convencer a população através do seu discurso sobre as “minorias violentas”, os
meios de comunicação resolveram incorporar suas pautas aos protestos. Gritos de
repúdio aos partidos socialistas e comunistas, agressões a militantes,
proibição do uso de bandeiras internacionalistas em detrimento da bandeira do
Brasil, PEC 37, fora Renan Calheiros e todo tipo de pautas se impuseram sobre
os nossos gritos contra o capitalismo, o imperialismo e o aparelho repressor.
O fenômeno
de Junho/julho ainda está sendo digerido, não foi satisfatoriamente
compreendido por muitos setores da sociedade. No entanto, nos parece que as
análises são menos realistas do que otimistas. A indignação levou milhares às
ruas. Essa indignação, em sua maioria, é reflexo da crise de representatividade
do Estado burguês. Os gritos clamando pelo apartidarismo trazem em si a
descrença em um Estado que serve somente aos ricos, deixando os miseráveis de
lado.
No período
em que se deu a revolta as coisas se deram muito rápido e não tivemos tempo
hábil para nos articular e organizar a resistência. Como consequência não
conseguimos estabelecer um diálogo com a população e demonstrar de forma
objetiva que o capitalismo é a causa primeira dos problemas e o ataque ao mesmo
é o princípio da solução. O grito das ruas em junho definitivamente não fazia
uma crítica aberta e consciente ao capitalismo ou ao imperialismo, foi um
momento de revolta, cuja essência causal é o próprio sistema capitalista e o
Estado atrelado aos interesses dos ricos. Infelizmente não conseguimos vencer a
disputa, não conseguimos mostrar para a população qual é a nossa alternativa
para essas demandas, e deixamos espaços vazios, os quais foram preenchidos
rapidamente pela ideologia burguesa difundida pela mídia.
Os
movimentos de junho/julho estão obrigatoriamente ligados ao processo eleitoral
na UFRGS, e podem servir de amostra para avaliarmos os resíduos ideológicos
deixados pelos mesmos. Após um aumento considerável do número de manifestantes
nas ruas, a incorporação das pautas da direita e todas as dificuldades que
enfrentamos em unidade naquele momento, tivemos como resultado, na UFRGS, um
aumento considerável no número de votantes que acabou na vitória das propostas
da chapa que representa os ideais da mesma direita que nos atropelou em junho.
Nas
eleições de 2012 votaram 3.995 estudantes. Nas eleições deste ano o número de
participantes subiu para 6.155, mais de 2 mil novos eleitores, um número
bastante considerável para o período de 1 ano. As manifestações de junho
instigaram a participação dos estudantes no pleito. Desses 2 mil novos
eleitores a maior parte votou na chapa 3, chapa conservadora que se diz sem
partido e apóia as parcerias público-privadas, discurso hegemônico na grande
mídia, evidenciando, em escala reduzida, o impacto que as manifestações tiveram
na consciência da população. A chapa 1, da qual éramos apoiadores, fez 1.975
votos, contra 2.461 votos da chapa 3.
Esses
processos nos mostram a fragilidade da esquerda, pois se tivéssemos uma unidade
organizada e suficientemente forte para disputar a consciência das ruas, o
processo de apropriação das massas por parte da burguesia não teria acontecido
de maneira tão simples e rápida. Outra questão que envolve o necessário
processo de autocrítica do movimento estudantil de esquerda é o distanciamento
do DCE da massa estudantil que o mesmo deveria representar, estando isso
intimamente articulado com a primeira problemática, pois uma das causas de
nossa derrota na disputa ideológica nas ruas se deu por não termos conseguido
conectar os estudantes aos movimentos através do DCE, deixando essa tarefa para
os grandes meios de comunicação.
A maior
lição que este processo eleitoral deixa para a UJC é que no ano que vem
precisamos estar melhor preparados para disputar a consciência das massas com a
grande mídia, precisamos nos organizar de maneira planejada, agindo de maneira
verdadeiramente leninista, sem cair nas provocações que minam a unidade e a
organização da esquerda. Do contrário continuaremos a trabalhar para a direita,
levando gente às ruas para serem capturadas pelas ideologias mais repugnantes
que a classe dominante tem a oferecer.
União da
Juventude Comunista - Porto Alegre/RS
05/12/13
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