segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Nota política da UJC/POA sobre as lutas de 2013 e o processo eleitoral do DCE/UFRGS

A UJC/POA encontra-se em processo de reorganização e, infelizmente, nossa participação junto aos companheiros na construção do movimento estudantil da UFRGS não foi possível. Por conta do número reduzido de militantes priorizamos a construção do Bloco de Luta pelo Transporte Público. Por consequência, não compomos nenhuma chapa para disputar o processo eleitoral para o DCE da UFRGS neste ano.

Entretanto, visando a necessária construção de uma unidade entre as esquerdas, tanto no movimento estudantil quanto nos movimentos sociais, decidimos apoiar a chapa 1. Nossa decisão levou em conta o fato de que essa era a chapa que tinha o respaldo da maioria da esquerda aqui em Porto Alegre, além de unificar o apoio de diferentes forças e ideologias que foram fundamentais nas lutas deste ano.

Isso não significa que temos problemas ou discordâncias sérias com os companheiros das outras chapas de esquerda. Porém nós, da UJC, priorizaremos e trabalharemos pela unidade nos movimentos sociais. Entendemos que o próximo ano será um ano intenso de lutas sociais e, por isso, desejamos estar presentes na construção de uma unidade sólida com os setores combativos. Necessitamos da presença dos camaradas nos movimentos sociais, nas ruas, nas discussões e nas instâncias que unem a esquerda portoalegrense. Enxergamos a unidade como algo construído no decorrer da luta, e não como algo a ser tratado somente em época de campanha, como reflexo do processo eleitoral burguês.

O ano de 2013 foi um ano politicamente atípico, no qual as manifestações de rua obtiveram um protagonismo que conseguiu colocar as eleições do ano que vem em segundo plano. Possivelmente teremos manifestações ainda maiores do que as deste ano durante a Copa do Mundo.

Visando desde já o próximo ano chamamos a atenção para a necessidade de uma análise mais cautelosa e crítica a respeito do mês de junho aqui em Porto Alegre. Também necessitamos compartilhar com os companheiros uma análise a respeito do processo eleitoral deste ano na UFRGS.

Não nos faltam exemplos de momentos históricos onde a direita se organizou diante dos levantes populares, sendo capaz de impôr as suas pautas às massas. Dessa forma enxergamos com preocupação a capacidade de resposta demonstrada pela direita em junho.

Sem convencer a população através do seu discurso sobre as “minorias violentas”, os meios de comunicação resolveram incorporar suas pautas aos protestos. Gritos de repúdio aos partidos socialistas e comunistas, agressões a militantes, proibição do uso de bandeiras internacionalistas em detrimento da bandeira do Brasil, PEC 37, fora Renan Calheiros e todo tipo de pautas se impuseram sobre os nossos gritos contra o capitalismo, o imperialismo e o aparelho repressor.

O fenômeno de Junho/julho ainda está sendo digerido, não foi satisfatoriamente compreendido por muitos setores da sociedade. No entanto, nos parece que as análises são menos realistas do que otimistas. A indignação levou milhares às ruas. Essa indignação, em sua maioria, é reflexo da crise de representatividade do Estado burguês. Os gritos clamando pelo apartidarismo trazem em si a descrença em um Estado que serve somente aos ricos, deixando os miseráveis de lado.

No período em que se deu a revolta as coisas se deram muito rápido e não tivemos tempo hábil para nos articular e organizar a resistência. Como consequência não conseguimos estabelecer um diálogo com a população e demonstrar de forma objetiva que o capitalismo é a causa primeira dos problemas e o ataque ao mesmo é o princípio da solução. O grito das ruas em junho definitivamente não fazia uma crítica aberta e consciente ao capitalismo ou ao imperialismo, foi um momento de revolta, cuja essência causal é o próprio sistema capitalista e o Estado atrelado aos interesses dos ricos. Infelizmente não conseguimos vencer a disputa, não conseguimos mostrar para a população qual é a nossa alternativa para essas demandas, e deixamos espaços vazios, os quais foram preenchidos rapidamente pela ideologia burguesa difundida pela mídia.

Os movimentos de junho/julho estão obrigatoriamente ligados ao processo eleitoral na UFRGS, e podem servir de amostra para avaliarmos os resíduos ideológicos deixados pelos mesmos. Após um aumento considerável do número de manifestantes nas ruas, a incorporação das pautas da direita e todas as dificuldades que enfrentamos em unidade naquele momento, tivemos como resultado, na UFRGS, um aumento considerável no número de votantes que acabou na vitória das propostas da chapa que representa os ideais da mesma direita que nos atropelou em junho.

Nas eleições de 2012 votaram 3.995 estudantes. Nas eleições deste ano o número de participantes subiu para 6.155, mais de 2 mil novos eleitores, um número bastante considerável para o período de 1 ano. As manifestações de junho instigaram a participação dos estudantes no pleito. Desses 2 mil novos eleitores a maior parte votou na chapa 3, chapa conservadora que se diz sem partido e apóia as parcerias público-privadas, discurso hegemônico na grande mídia, evidenciando, em escala reduzida, o impacto que as manifestações tiveram na consciência da população. A chapa 1, da qual éramos apoiadores, fez 1.975 votos, contra 2.461 votos da chapa 3. 

Esses processos nos mostram a fragilidade da esquerda, pois se tivéssemos uma unidade organizada e suficientemente forte para disputar a consciência das ruas, o processo de apropriação das massas por parte da burguesia não teria acontecido de maneira tão simples e rápida. Outra questão que envolve o necessário processo de autocrítica do movimento estudantil de esquerda é o distanciamento do DCE da massa estudantil que o mesmo deveria representar, estando isso intimamente articulado com a primeira problemática, pois uma das causas de nossa derrota na disputa ideológica nas ruas se deu por não termos conseguido conectar os estudantes aos movimentos através do DCE, deixando essa tarefa para os grandes meios de comunicação.

A maior lição que este processo eleitoral deixa para a UJC é que no ano que vem precisamos estar melhor preparados para disputar a consciência das massas com a grande mídia, precisamos nos organizar de maneira planejada, agindo de maneira verdadeiramente leninista, sem cair nas provocações que minam a unidade e a organização da esquerda. Do contrário continuaremos a trabalhar para a direita, levando gente às ruas para serem capturadas pelas ideologias mais repugnantes que a classe dominante tem a oferecer.

União da Juventude Comunista - Porto Alegre/RS

05/12/13