sexta-feira, 20 de abril de 2012

FALECIMENTO DO HISTÓRICO CAMARADA HUGO NEQUESAUERT


Hugo Nequesauert é o de bigode, à esquerda de
Perseverando Santana, também membro do Partido
que viveu mais de 90 anos, falecido em 2008
Ontem, em Sant´Ana do Livramento, RS, faleceu nosso camarada Hugo Nequesauert, último sobrevivente do episódio conhecido como a  Chacina de Comunistas, ocorrida naquela cidade em setembro de 1950.

Hugo foi operário do Frigorífico Armour e depois mecânico naquela cidade, membro ativo do Partido, um homem de pensamento e de ação.

Em 1949, foi um dos líderes de uma greve no Frigorífico Armour que o manteve paralisado durante vários dias e, por isso, muitos companheiros de Partido e grevistas foram presos.  Familiares dos presos se dirigiram ao Partido para que interviesse em favor dos detidos e Hugo recebeu a missão de retirar, de qualquer maneira, os presos de um trem onde, supostamente, seriam levados para Porto Alegre, sob escolta policial. Armado de um pequeno revólver,  Hugo tomou o trem em uma estação intermediária, disposto a cumprir a ordem do Partido, mesmo que isso exigisse o sacrifício de sua vida. Felizmente, para Hugo e para a escolta, os presos continuavam detidos na Delegacia de Polícia de Livramento e não se encontravam  no trem que ia à Porto Alegre.

Esse pequeno episódio, praticamente anedótico, demonstra  não só a coragem de Hugo, mas sua dedicação ao Partido.

Em setembro de 1950, vésperas de eleições, o Partido pretendia fazer uma pichação a esse respeito. Para tanto, precisava do consentimento das autoridades.  O Partido recebeu a notícia da autorização e dirigiu-se,praticamente em peso, ao Largo do Internacional, na divisa com a vizinha Rivera, no Uruguai. Mas, o Partido foi enganado e a autorização foi revogada, sem aviso ao Partido. As autoridades mandaram um pelotão da Brigada Militar que estacionou  a uma quadra do local e policiais para enfrentarem os camaradas. O 7º Regimento de Cavalaria do Exército ficou de prontidão para intervir se fosse necessário. Cerca das 22 horas, os policiais chegaram, atirando e a Brigada, logo após.

Mas, deixemos o próprio Hugo narrar os fatos, em entrevista ao jornalista Marlon Aseff, com aquela  linguagem característica da zona da fronteira:

Em 1950, quando aconteceu a chacina eu não estava mais no Armour. Já tinha sido botado para a rua, por causa da greve que fizemos. Havian sindicalistas, casi todos, mas era el partido que estava determinando os acontecimentos. Era época de eleição, se supo que la policía ia tomar represálias, e se consultó a Porto Alegre e yo era uno, solo yo, que estava com Lúcio quando recibió ordenes de que podian hacer pichamento legalmente, que estava todo determinado de que no ia passar nada. Entonces aí se resolvió hacer, se convocó a la gente toda e se fez, se começó a pichar, quando vê, somos surpreendidos pela polícia. E chegou atirando, insultando e atirando e matando. E matou quatro! Havia 15 o 17 personas quando mucho, no havia más...Unos dirigian el trabajo e otros executavan ele trabajo. Estavam completamente desprevenidos, a arma deles era o pincel e a cal. Houve um que estava pichando, era parente do Perseverando, tinha uma fustinha, sabe o que é fusta? Um relhinho, e brigou de fusta. Tinha outro, que morreu, o finado Aristides Corrêia, que tinha um aparato que vinha nos carburadores dos auto antiguo, como que uma güela, assim, flexíble, e deu três ou quatro mangasso num deles com aquilo, e caiu morto, assassinado. Era mais ou menos las diez de las noche, era temprano todavia[...] o Ari Kullmann era o dono da Cueva. E recebia a polícia, a polícia se dava com ele, os que mataram ele não saíam de lá, jantando de noite e comendo sempre. Tinha um uruguaio, me parece que si, que era do centro do Uruguai, mas que fazia muitos anos que morava em Livramento, trabalhava no Frigorífico Armour, se chamava Aladin Rosales, e esse era um dos que podia ser castilhano. Esse foi um dos que morreu também. (...)


Era o Exército castilhano que vinha para a linha, Veio para a linha, ocupou a linha, o próprio Exército salvou um comunista, o Santos, me quiero acordar del nombre del, salvou porque caiu baleado das duas pernas e veio um metralhar ele com fuzil, foi quando eu saí dali, eu já não tinha mais bala e chegou o caminhão da polícia com mosquetão, o Exército. Iam fuzilar ele, e o milico castelhano disse que não, que não permitia, que ele tava no Uruguai- portanto o responsável por ele eram eles. E levaram ele, hospitalizaram ele e tudo, mas ele foi preso e o que salvou ele, era um tocaio dele por coincidência (risos) [...] O Lúcio foi curado no Polla, na Sarandi lá no fundo, num doutor que era comunista, Dr. Polaco Polla, chamavam ele, era russo, mas era médico castelhano, curou ele e imediatamente que curou ele, deu salida para ele pelos fundos, pelos muros da casa dele e comunicou a polícia que tinha curado um ferido, porque ele tem obrigação de anunciar né? Mas só depois que curou bem, ele largou. Ah, o Lúcio ficou em Rivera, e depois quem saía com ele era eu, só eu saía com ele. Ele ia com um prato de comida e um pano agarrado assim, disfarçado de mendigo, e era tempo de eleição no Uruguai também, e ele gritava - o partido Batllista era o de maior prestígio- e ele gritava: "Viva Batlle" em castilhano (risos), não muito bom castelhano, mas, e eu atrás dele. (risos)”.

(Fonte da entrevista: http://jogosdamemoria.blogspot.com.br/2010/05/rosales-e-kulmann-irmaos-aristides-e-tu.html)

Por isso, hoje dizemos:

CAMARADA HUGO NEQUESAURT, PRESENTE!

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