quarta-feira, 2 de novembro de 2011

TODOS QUEREMOS O MELHOR! (OU A OPÇÃO DE LULA PELO HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS)

ANTONIO CARLOS MAZZEO
Professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

"Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar
De se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas
Estão no olhar..."
Caetano Veloso

Criou-se uma polêmica em relação ao tratamento de Lula no hospital Sírio-Libanês, um dos melhores do país e da América Latina e, é claro, um dos mais caros. Obviamente não estamos aqui, entrando no mérito do direito humano intrínseco do ex-presidente tratar de sua grave doença.


A questão que se coloca é outra. Melhor dizendo é de fundo, pois política e simbologicamente, a opção de tratamento de Lula em hospital de referência internacional envolve o problema de milhões de brasileiros que não podem optar pelo melhor. Daí esta constituir uma questão de alto interesse nacional.

Mas é preciso dizer que Lula não foi o único a optar por este hospital, basta lembrar de seu vice-presidente, assim como Sarney e tantos outros membros da "elite" política nacional, também foram atendidos nesse nosocômio de fina estampa.

A pergunta é porque aqueles que tem condições econômicas para pagar um bom plano particular não optam pelo serviço público de saúde? Obviamente não vou responder à essa pergunta emblemática, pois é sabido que cotidianamente milhares de brasileiros morrem nas filas dos hospitais esperando atendimento, em estruturas de saúde abandonadas e precárias, mães em trabalho de parto, doentes crônicos, acidentados, anciãos, crianças, etc, todos pertencentes à classe trabalhadora e pagadores de seus impostos que, infelizmente, não são revertidos em melhoria da estrutura de saúde, de educação, de moradia, de transporte, de infraestrutura urbana, e assim por diante.

Coloca-se, então, uma pergunta moral e política: até quando o país vai tolerar a saúde, a educação, o transporte e a infraestrutura estratificada e "privilegiante", se todos somos iguais perante à lei e ao direito cidadão?

Seguramente a resposta não será aquela medíocre e irresponsável que o "sociólogo" Fernando Henrique Cardoso encontrou para defender seu adversário político, quer dizer, para defender o privilégio que é seu também. Não é o "recalque" das pessoas mas sim a indignação!

Melhor ainda, a indignidade com que a classe que dirige o país trata os trabalhadores, ainda com os resquícios cruéis da senzala, materializados nas escolas sem estruturas, nos professores mal pagos, numa política de saúde que não dá ao trabalhador a chance de sobreviver à doenças mais banais, em que os hospitais se assemelham a açougues.

Não é de Lula apenas que estamos cobrando a socialização da dignidade, mas do conjunto das políticas sociais atravancadas nas salas dos parlamentares da ordem, em sua maioria, mancomunados com interesses escusos dos empresários da educação, da saúde, da infraestrutura, dos transportes e sabe lá quantos outros interesses ocultos.

O Brasil é um país rico, mas com um povo pobre. A burguesia, tampouco sua aliada, a social-democracia petista, resolveram as questões estruturais do país porque as duas forças políticas aliam-se e fazem parte do projeto de modernização conservadora de vezo capitalista. A social-democracia tardia tenta, de todas as formas, maquiar o problema, inventando o falacioso conceito de "nova classe média" brasileira, mas os dados negam a demagogia do governo do PT e de seus aliados: 28% (aproximadamente 16 milhões) da população brasileira vive abaixo da linha de pobreza, recebendo em média R$ 70,00 por mês. 43% (aproximadamente 80 milhões) vivem na pobreza, recebendo cerca de R$ 140,00 por mês. No total, temos 96 milhões de brasileiros vivendo na pobreza extrema, em que pesem ai, os programas de bolsa-família, pois com R$ 140,00 mês ou com o salário mínimo de R$ 545,00 é impossível viver com dignidade.

De modo que a maioria esmagadora dos brasileiros não pode fazer a opção de qualidade que fez Lula, para seu tratamento de saúde, assim como não pode matricular seus filhos nas melhores escolas. Para que tenhamos uma ideia, um bom plano de saúde que dê direito a hospitais como Sírio-Libanês, São Luís, Albert Einstein e outros de igual qualidade, para uma família média de 4 pessoas, não sai menos que R$ 1.500, mês. Uma escola considerada de qualidade em São Paulo, tem como mensalidade uma média que varia de R$ 1.700,00 a R$ 2.000,00 por mês.

Com essas distorções perversas não é de se admirar o surgimento das controvésias em relação à opção de Lula por ser tratado de sua enfermidade no hospital Sírio-Libanês. Que me desculpem os amigos, mas não consigo ver de outro modo que não o indignado a estratificação dos direitos básicos das pessoas. Não posso aceitar que para uma minoria sejam dados todos os recursos e todas as estruturas para o acesso à saúde, educação, moradia e transportes e para a maioria a opção do "menos pior", quando isso é possível.

Há algo de errado nisso tudo, e sabemos suas causas. Cabe-nos agora, a organização das condições objetivas e subjetivas para que todos tenhamos a opção pelo melhor e, aviso, ninguém nos dará isso de mãos beijadas.

Um comentário:

  1. http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=21229&Itemid=0&thanks=13

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