sábado, 2 de abril de 2011

PC do B fatura com parceiros de 2014 e 2016

RODRIGO MATTOS

Wilmarx - wilmarx.blogspot.com 
Patrocinadores da Olimpíada do Rio-2016 e da Copa de 2014 fizeram doações na eleição de 2010 para o PC do B, partido do ministro do Esporte, Orlando Silva Jr..

O ministério participa da elaboração de leis que darão benefícios aos parceiros comerciais dos dois eventos. Ainda atua em negociações com a Fifa e o COI (Comitê Olímpico Internacional).

Levantamento da Folha mostra que o PC do B recebeu R$ 940 mil de patrocinadores da Olimpíada e da Copa, contra nada no pleito de 2002.

Os doadores foram a Coca-Cola, o McDonald's e o Bradesco. As duas primeiras empresas são patrocinadoras dos dois eventos, e o banco, apenas dos Jogos do Rio.

O dinheiro foi dado ao Comitê Financeiro Único do PC do B em três Estados: Amazonas, São Paulo e Rio. O que faturou mais foi o da a capital fluminense, sede da Olimpíada e da decisão da Copa.

A Coca-Cola deu a maior fatia do dinheiro. Principal subsidiária da empresa no Brasil, a Recofarma Indústria do Amazonas Ltda. doou R$ 450 mil aos comunistas. A Rio de Janeiro Refrescos Ltda., distribuidora na capital do Rio, deu R$ 100 mil.

A empresa é a mais interessada nos eventos: está garantida no rol de patrocinadores principais da Fifa (até 2022) e do COI (até 2020).

O PC do B recebeu R$ 350 mil do Banco Alvorada, controlado pelo Bradesco.

No final do ano passado, o banco ganhou a concorrência para prestar os serviços financeiros e de seguros para a Olimpíada de 2016.

A Arcos Dourados Comercio Ltda., nome do McDonald's no Brasil, doou R$ 40 mil aos comunistas.

A rede de alimentação é patrocinadora oficial da Olimpíada desde 1976 e tem contrato até pelo menos Londres-2012. No caso da Copa do Mundo, seu contrato vem desde 1994 e está em vigor.

As doações dos três patrocinadores olímpicos representam em torno de um sétimo do total ganho pelo PC do B nos Estados de São Paulo, Rio e Amazonas (sede da Coca-Cola), os que mais arrecadaram na última campanha.

Feito em conjunto pelo Esporte e pela Casa Civil, a Lei do Ato Olímpico deu exclusividade a esses e outros parceiros do COI no uso de espaços de publicidade em áreas federais relacionadas aos Jogos-2016, como aeroportos. Foi aprovada no Congresso.

A versão em estudo da Lei Geral da Copa, da qual o Ministério do Esporte também participa da gestação, prevê também limites de áreas exclusivas para patrocinadores da Fifa. Ainda determina prisão para quem tentar fazer marketing pirata com a Copa.

Essas medidas estavam nas garantias dadas pelo governo à Fifa e ao COI em negociações das quais o ministério de Orlando Silva Jr. também participou. São imposições para receber os eventos.

Verba para comunistas dispara em 4 anos

As contribuições dos patrocinadores da Olimpíada e da Copa ao PC do B foram praticamente quintuplicadas da eleição de 2006 para a realizada no ano passado.

O cálculo leva em conta recursos aos comitês financeiros únicos, sem considerar dinheiro aos candidatos.

Há quatro anos, o partido recebeu R$ 194,6 mil da Coca-Cola, por meio das subsidiárias Recofarma Indústria do Amazonas Ltda. e da Rio de Janeiro Refrescos Ltda.

Foi o único patrocinador que deu dinheiro aos comunistas naquele pleito.

Para 2010, o valor da doação da Coca-Cola foi a R$ 550 mil, um aumento de 182% em relação à eleição anterior.

Como comparação, a contribuição eleitoral da empresa a todos os partidos apresentou um crescimento de 94% nesses quatros anos.

O McDonald's não deu dinheiro a partidos em 2006, mas, no ano passado, doou R$ 40 mil ao PC do B.

O Banco Alvorada, controlado pelo Bradesco, até deu R$ 60 mil ao partido, mas na época não tinha associação com Olimpíada ou Copa.

Em 2002, o PC do B não ganhou nada dos parceiros dos Jogos do Rio e da Copa.

Ainda houve salto na arrecadação do Comitê Financeiro Único do Rio, cidade-sede da Olimpíada-2016, multiplicada por oito em 2010 e chegando a R$ 3,2 milhões. (RM)

Ministério nega interesse partidário

As leis sobre a Copa-2014 e os Jogos-2016 são fruto de garantias governamentais dadas à Fifa e ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Foi o que disse a assessoria do Ministério do Esporte, ao negar motivação partidária na atuação de Orlando Silva Jr..

"Ressaltamos que o ministro do Esporte toma decisões com base no interesse público, e não em interesses partidários", afirmou a assessoria do Ministério do Esporte.

Na edição de domingo passado, a Folha mostrou que, em cinco anos de gestão, Silva Jr. concentrou verbas do maior programa da pasta, o Esporte e Lazer na Cidade, em prefeituras aliadas do PC do B em São Paulo, que compõem sua base política.

A respeito das doações dos parceiros de Copa e Olimpíada, a pasta informou que tanto o Ato Olímpico como a Lei Geral da Copa foram ou são elaborados a partir dos compromissos do governo para sediar os eventos. "O Poder Executivo e o Poder Legislativo respaldaram as garantias governamentais perante o COI", declarou o ministério.

A assessoria, porém, não especificou o papel do ministério nessas legislações.

O presidente do PC do B, Renato Rabelo, declarou que apenas o Banco Alvorada, controlado pelo Bradesco, fez contribuições para a direção do partido. As outras doações foram enviadas para os comitês estaduais.

Mas ressaltou que o Bradesco e a Coca-Cola já apoiavam candidatos ou o partido em eleições anteriores.

"Sinceramente, nem sabia quem eram os patrocinadores da Olimpíada e da Copa", declarou Rabelo, que afirmou não influir em decisões do Ministério do Esporte.

"Não procuramos ninguém por ser patrocinador olímpico. Procuramos quem defende os princípios iguais aos do partido", ressaltou.

As empresas também negaram relação entre as doações ao PC do B e a presença do partido no ministério.

"A Coca-Cola faz doações para partidos políticos desde 1996, muito antes de o Brasil ter sido escolhido sede de Copa e Olimpíada", declarou a companhia, via assessoria.

De acordo com a assessoria do McDonald's, os contratos dos eventos são definidos mundialmente, "sem o envolvimento dos mercados onde serão realizados".

A empresa disse que acredita em "apoiar valores democráticos" e que, por isso, "apoiou alguns partidos políticos nas eleições de 2010".

A assessoria do Bradesco, ao negar elo entre doações e o patrocínio, afirmou que "eventuais contribuições aos partidos políticos observam todos os aspectos legais".

O texto "PC do B fatura com parceiros de 2014 e 2016" foi originalmente publicado na Folha de São Paulohttp://www1.folha.uol.com.br/esporte/891281-pc-do-b-fatura-com-parceiros-de-2014-e-2016.shtml

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