sábado, 31 de março de 2012

Declaração do Instituto Luiz Carlos Prestes sobre postura do PCdoB


O PCdoB vem utilizando de maneira indevida e inaceitável imagens de Luiz Carlos Prestes na tentativa de associar sua atuação à frente do PCB com suposta participação na história do PCdoB

Declaração do Instituto Luiz Carlos Prestes

O Instituto Luiz Carlos Prestes, entidade de perfil cultural, cujo objetivo é preservar e difundir a memória desse grande brasileiro - patriota, revolucionário e comunista, contando com o apoio de companheiros e amigos do Cavaleiro da Esperança, declara de público sua indignação e repulsa à atitude oportunista do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), que vem lançando mão da manipulação grosseira da memória histórica dos comunistas brasileiros e, em particular, da trajetória revolucionária de Prestes com vistas a prestigiar-se perante a opinião pública nacional.

Assim, em seus programas eleitorais difundidos em rede nacional pela TV, o PCdoB vem utilizando de maneira indevida e inaceitável imagens de Luiz Carlos Prestes na tentativa de associar sua atuação à frente do PCB com suposta participação na história do PCdoB. Na realidade, o PCdoB foi criado em 1962, resultando de cisão com o PCB e com Luiz Carlos Prestes, então secretário-geral deste partido. Prestes jamais ingressou no PCdoB ou lhe concedeu qualquer apoio, sendo que o PCdoB durante anos o combateu com extrema virulência.

Um partido como o PCdoB, que apoia o novo código florestal, que é absolutamente acrítico às medidas neoliberais dos governos Lula/Dilma, imergido em denúncias de corrupção, e que ousa apresentar Prestes em seu Programa de TV é algo totalmente inaceitável.

A direção do PCdoB manipula também, entre outras, a memória do fundador do PCB, o conhecido intelectual comunista Astrojildo Pereira, que, ao falecer em 1965, continuava militando nas fileiras do PCB.

Nós, signatários desta declaração, conclamamos companheiros e amigos, bem como todos os brasileiros sinceramente interessados na defesa da preservação da história de nosso país, a denunciar e repudiar as manobras de falsificação da trajetória histórica de Luiz Carlos Prestes, das lutas dos comunistas brasileiros e da própria história do Brasil, realizada pela direção do Partido Comunista do Brasil.

Com esta atitude, desejamos expressar nossa posição intransigente de defesa de uma história objetiva de Luiz Carlos Prestes, dos comunistas, e do Brasil, baseada em fatos, e não em falsificações convenientes a esse ou àquele grupo político. Com esta atitude, queremos contribuir para o esclarecimento de amplos setores da opinião pública e evitar que outros se aventurem nos caminhos da falsificação de nossa história, conforme vem sendo feito pela direção do PCdoB.

Assina Anita Leocadia Prestes
Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes, historiadora e professora da UFRJ

quinta-feira, 29 de março de 2012

Brasil é denunciado na OEA por assassinato de Vladimir Herzog

País terá, agora, cerca de dois meses para se defender;  processo pode ainda ser enviado para a Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA),  abriu oficialmente um processo para investigar a não-punição dos responsáveis pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975. As autoridades brasileiras foram notificadas na segunda-feira (26).

A denúncia foi apresentada pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), pela Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos (FIDDH),  Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.

Em um comunicado, as entidades afirmam que "até o presente momento, apesar das tentativas no âmbito da justiça interna, o Estado não cumpriu com seu dever de investigar, processar, e sancionar os responsáveis pelo assassinato de Vladimir Herzog".

A denúncia afirma que o jornalista foi executado depois de ter sido arbitrariamente detido por agentes do DOI/CODI de São Paulo.

A morte de Herzog foi apresentada à família e à sociedade como um suicídio, e a investigação foi realizada por meio de Inquérito Militar, que concluiu pela ocorrência de suicídio. Entretanto, em 1978 a Justiça condenou a União pelo assassinato do jornalista.

O Brasil terá, agora, cerca de dois meses para se defender. Se considerar insuficientes as explicações do país, a Comissão poderá remeter o processo para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde o Brasil poderá ser condenado - como já ocorreu em dezembro de 2010, no caso da Guerrilha do Araguaia (1972-1975).

Em fevereiro deste ano, o fotógrafo que registrou a foto de Herzog morto numa cela do DOI-Codi, Silvaldo Leung Vieira, revelou em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, que a cena do suicídio foi forjada pelos agentes.

A notícia "Brasil é denunciado na OEA por assassinato de Vladimir Herzog" foi originalmente publicada no site do jornal Brasil de Fatohttp://www.brasildefato.com.br/content/brasil-%C3%A9-denunciado-na-oea-por-assassinato-de-vladimir-herzog

segunda-feira, 26 de março de 2012

Famílias do MST reocupam área da Fepagro em Eldorado do Sul

Famílias do MST ocuparam na manhã desta segunda-feira a área da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), em Eldorado do Sul. A área já foi destinada para a reforma agrária pelo governador Tarso Genro. A mobilização do Movimento visa apenas dar condições para que os trabalhadores possam de fato ser assentados e começar a produzir alimentos.
Após a ocupação, os militantes do MST receberam ameaça da polícia, que prometeram queimar a madeira trazida pelos Sem Terra que seriam utilizadas na construção de barracos de lona preta.

A ação é conjunta em três áreas destinadas pelo Executivo gaúcho para Reforma Agrária no ano passado. Além de ocuparem a Fepagro em Eldorado, as famílias iniciam o plantio de hortaliças e lavoura de subsistência nas áreas de Charqueadas e Taquari, também partes no acordo, que garantia a destinação de tais áreas para a criação de assentamentos até o final de 2011. No entanto, até hoje nenhuma das áreas foi oficialmente liberada.

Por determinação do governador do estado, Tarso Genro, em setembro de 2011 o secretário do Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan, assinou um acordo com o MST destinando três áreas para assentar 36 famílias: a primeira em Eldorado do Sul, localizada próximo à BR-116 e à Estrada do Conde; a segunda em Charqueadas, localizada na antiga Colônia Penal Agrícola; e a terceira em Taquari, na Antiga FEBEM.

O acordo que definiu as áreas para a Reforma Agrária deriva de um documento anterior, de  abril, em que o governo estadual havia se comprometido em assentar as mil famílias que vivem em acampamentos no Rio Grande do Sul até 2012. Contudo, apesar da decisão política de liberar as três áreas para os futuros assentados, as famílias continuam vivendo em barracos de lona preta.

Por muitos anos estas áreas pertencentes ao estado estiveram sem função social. A área da Fepagro vinha sendo arrendada para terceiros de forma ilegal. Inclusive os agrotóxicos utilizados por estes levaram à contaminação de algumas vilas e comunidades rurais do município.
Agora, com a ajuda de outros assentamentos do MST, as famílias reocupam, plantam alimentos orgânicos e exigem condições para dar continuidade à produção, isto é, acesso aos direitos sociais como moradia, saneamento básico, educação e saúde.

A situação desses assentamentos não é exceção: a Reforma Agrária não tem sido prioridade política no Brasil nem no Rio Grande do Sul. Enquanto os assentamentos rurais padecem devido à falta de recursos, o governo investe cada vez mais no agronegócio e em grandes eventos (como a Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016).

Pauta das famílias acampadas do MST

- Assentamento das 1.000 famílias acampadas no Estado

- Liberação do convênio com o Governo Federal para compra de novas áreas destinas a Reforma Agrária no valor de R$126 milhões

- Regularização das três novas áreas de Eldorado do Sul, Charqueadas e Taquari

- Infraestrutura para produção de alimentos nos novos assentamentos, além de moradia, eletricidade e água potável

A notícia "Famílias do MST reocupam área da Fepagro em Eldorado do Sul" foi originalmente publicada no site do MSThttp://www.mst.org.br/Familias-do-MST-reocupam-area-da-Fepagro-em-Eldorado-do-Sul

domingo, 25 de março de 2012

PCB, noventa, noves fora, o que fica?

GILBERTO MARINGONI

Os fundadores do PCB (Niterói-RJ, 25 de março de 1922)
Da esquerda para a direita, em pé: Manuel Cendón, Joaquim Barbosa, Astrojildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luis Peres e José Elias da Silva. Sentados: Hermogêneo Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro.
Os nove parecem estar posando para uma foto de formatura, ou para uma reunião de grêmio literário do interior. Há um tom solene nos rostos. Eles estão de terno e encaram fixamente a câmara. Têm entre 23 e 33 anos. Acabaram de realizar uma reunião, que depois se mostrou histórica, dividida entre os dois lados da baía de Guanabara, nos dias 25, 26 e 27 de março de 1922, há exatos 90 anos. Desse pequeno encontro, registrado em uma única foto conhecida, resultou a fundação da mais importante agremiação política da esquerda brasileira por várias décadas: o Partido Comunista do Brasil (PCB). A partir de agosto de 1961, em uma tentativa de obtenção de seu registro legal, seu nome mudaria para Partido Comunista Brasileiro.

Cristiano Cordeiro (1895-1987), um dos nove delegados, vindos de vários pontos do País, assim se lembraria daqueles dias:

"As reuniões foram duas nos sindicatos dos Alfaiates e Metalúrgicos, no Rio, e duas num sobrado das tias de Astrojildo Pereira (outro dos participantes), em Niterói. Éramos apenas nove, representando grupos comunistas de vários estados brasileiros. Secretariei os encontros, onde foram lidos os ‘21 pontos de Moscou’, discutida sua aplicação à nossa realidade, estudada a criação de comitês em cidades importantes e vista a necessidade de se criar um jornal do partido. Na sessão de encerramento, para não espantar as tias de Astrojildo, cantamos bem baixinho a ‘Internacional’".


Período fértil em rebeldias

A referência aos "21 pontos de Moscou" não é gratuita. A criação do PCB foi o desaguadouro quase natural das particularidades da situação brasileira, aliadas ao formidável impulso que a Revolução de Outubro de 1917 deu aos movimentos libertários em todo o mundo. Aqueles pontos versavam sobre as condições necessárias para a admissão dos partidos à III Internacional Comunista, organização capitaneada pelo Partido Comunista da Rússia (PCR).

Quanto à situação nacional, ela era explosiva fértil. O País enfrentava desde o início do século XX um acirramento de lutas sociais, com greves e rebeliões em vários estados. No entanto, faltava a elas um vínculo aglutinador que desse rumo nacional a uma série de iniciativas fragmentadas em várias regiões, com destaque para a Greve de 1917, que parou São Paulo por vários dias.

O movimento anarquista, que estivera à testa de inúmeras dessas manifestações, já não conseguia responder às demandas de um operariado urbano que, apesar de reduzido numericamente, procurava vencer uma situação de inexistência de direitos e condições de vida extremamente precárias.

O ano de 1922 foi particularmente explosivo. As camadas médias exibiram sua rebeldia através do movimento tenentista, com ações violentas especialmente no Rio de Janeiro. Em São Paulo, alguns enfants terribles extremamente talentosos, agregados à oligarquia cafeeira, marcaram a vida cultural com a "Semana de Arte Moderna".


Erros e acertos

Apesar da abnegação de seus militantes, em seus anos iniciais, o PCB era um reduzido agrupamento com pouca presença no movimento popular. A repressão feroz do governo Arthur Bernardes (1922-1926) em muito contribuiu para isso. Somente no início dos anos 1930, quando o Partido recebe a adesão de Luis Carlos Prestes (1898-1990), já então uma figura lendária, egressa da Coluna, o Partido passa a ter voz expressiva no cenário político.

A história do PCB nos quarenta anos seguintes entrelaça-se com a história do movimento operário e popular no Brasil. Aglutinando lideranças populares, artistas, intelectuais, militares, estudantes etc. e vivendo a maior parte de sua longa existência sob os rigores da clandestinidade, o Partido cometeu erros e acertos que tolheram muito de sua capacidade de ação.

Os equívocos que resultaram no desastre do levante de novembro de 1935 marcaram toda uma geração de comunistas brasileiros. Nenhum partido brasileiro teve quase toda sua direção encarcerada durante praticamente uma década.

A necessidade da realização de um sólido trabalho de massas passou a ser quase que obsessivo nos anos seguintes. A campanha pelo fim da ditadura getulista, as eleições para a Constituinte de 1946, a jornada do ‘Petróleo é nosso, as grandes greves do início dos anos 1950, a luta pelas reformas de base, dentre tantas outras, tiveram no PCB seu núcleo definidor.


Lenta agonia

A luta pela conquista de espaços institucionais, que o tirassem da clandestinidade, da qual só se livrou por curtos 18 meses (1946-47), acabou gerando uma linha por vezes errática.

A situação internacional – da Guerra Fria às mudanças realizadas na União Soviética a partir de 1956 – também atingiu em cheio a legenda. Equívocos e cisões – o mais importante deles, em 1962, deu origem ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) - deixaram o partidão, como era conhecido, despreparado para enfrentar a conjuntura que resultou no golpe de 1964.

A partir daí, acentuam-se as dissidências e fragmentações, que conduziram a agremiação a uma lenta agonia e perda de iniciativa política. No início dos anos 1990, com a ofensiva globalizante e a queda dos regimes do leste europeu, o Partido praticamente se extingue. Três correntes reivindicam sua trajetória: o PCdoB, com significativa influência política, o Partido Popular Socialista (PPS) e o pequeno PCB. A disputa por sua herança mostra a longa e profunda legitimidade que os comunistas alcançaram na vida nacional.

Nesta segunda década do século XXI, quando a economia capitalista enfrenta uma grave crise e em que as ambigüidades e os limites do governo Dilma afloram de diversas maneiras, vale a pena lançar um olhar em direção àqueles brasileiros reunidos num prosaico sobrado de Niterói há nove décadas. E vale examinar que a luta pelo socialismo alcança inúmeros caminhos, sem desprezar coragem, combatividade e uma escolha clara sobre o lado a se defender.

O texto "PCB, noventa, noves fora, o que fica?" foi originalmente publicado no site Carta Maiorhttp://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19823

terça-feira, 6 de março de 2012

Mulheres do campo e da cidade ocupam Ministério da Fazenda em Porto Alegre

Trabalhadoras urbanas e rurais ocuparam, nesta manhã, o prédio da secretaria do Ministério da Fazenda em Porto Alegre, na Av. Loureiro da Silva.

As trabalhadoras reivindicam a liberação de recursos pelo Ministério da Fazenda para a desapropriação de terras para assentar as famílias que estão acampadas no estado e para programas que resolvam os problemas causados pela seca para as famílias camponesas.


A mobilização é parte da Jornada Nacional de lutas e dá continuidade às ações desta manhã no Rio Grande do Sul, com a liberação do pedágio em Guaíba.

Após deixarem o pedágio, as camponesas reuniram-se com trabalhadoras do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e ocuparam o prédio da Receita Federal e Secretaria do Ministério da Fazenda.

Os protestos reivindicam também programas de governo que incentivem a produção de alimentos saudáveis, recursos para infra-estrutura de produção de alimentos nas parcelas agrícolas com novas técnicas de produção e recursos para a produção e a organização das mulheres nos assentamentos.


Código Florestal

As trabalhadoras exigem também que a presidenta Dilma Roussef vete as mudanças aprovadas no Congresso no Código Florestal.

Para a Via Campesina, o novo Código irá beneficiar apenas o agronegócio, anistiando os grandes desmatadores e estimulando a destruição do meio ambiente para expansão de monocultivos como a soja, eucalipto e a cana-de-açucar. Dessa forma, beneficia somente empresas transnacionais e grandes proprietários de terra do agronegócio.

A notícia "Mulheres do campo e da cidade ocupam Ministério da Fazenda em Porto Alegre" foi originalmente publicada no site do MSThttp://www.mst.org.br/node/12988

segunda-feira, 5 de março de 2012

"ESSAS MULHERES": LANÇAMENTO DE LIVRO DE TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO NO DIA 8 DE MARÇO

O 39º Núcleo do CPERS/Sindicato lançará no dia 8 de março, às 17h, no Largo Glênio Peres, o livro “Essas Mulheres” por ocasião do Dia Internacional da Mulher. O livro traz textos e poesias das Educadoras da Rede Pública Estadual, refletindo a luta, os sonhos e o cotidiano dessas Trabalhadoras em Educação.

O lançamento do livro fará parte de um ato público político e cultural que terá participação de outras Categorias, Sindicatos  e Associações (SIMPA, ATEMPA, MAGISTER, ASERGHG, SINDET, CEDS - CSP/CONLUTAS e INTERSINDICAL – UNIDADE CLASSISTA – RESISTÊNCIA POPULAR).

Complementando as atividades de lançamento do livro, no dia 10 de Março, às 19h, no Bar Parangolê (Av Lima e Silva nº 240) haverá o lançamento festivo do livro onde todos os Educadores estão convidados a comparecer.

domingo, 4 de março de 2012

Melhor distribuição de renda no Brasil é uma ‘construção ideológica, planejada e articulada’

PAULO PASSARINHO
Economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre

O Brasil é  –  e continua sendo  –  um dos países mais desiguais do mundo. Uma vexaminosa vergonha, caso os ricos do nosso país tivessem um mínimo de respeito pelo nosso povo, pela verdade e por um mínimo senso de justiça. Ao contrário, não somente os ricos, seus políticos e seus acadêmicos não possuem esses predicados, como fazem escola agora, junto a segmentos da vida nacional que outrora se colocavam contra o espírito predador e egoísta das classes dominantes nativas.

Nos últimos anos, por exemplo, com o amplo apoio da mídia dominante, generalizou-se a informação sobre uma suposta melhor distribuição de renda no Brasil. Com base em dados obtidos pelas PNAD’s – Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, do IBGE –, difunde-se, sem maiores cuidados, que a distribuição de renda, desde 1995, vem melhorando no país, ano após ano, em particular de 2005 para cá.

Tecnicamente, através do cálculo do coeficiente de Gini, a partir desses dados das PNAD’s, de fato é constatável uma melhor distribuição da renda. Contudo, esse tipo de resultado não corresponde inteiramente à realidade. Esta ponderação é importante, pelo fato, de amplo conhecimento de pesquisadores e estudiosos da matéria, de os números das PNAD’s não captarem adequadamente os dados de renda relativos aos ganhos dos capitalistas, rendimentos vinculados à geração e pagamento de lucros, juros e aluguéis. Essas pesquisas do IBGE registram de forma adequada os rendimentos típicos do mundo do trabalho – salários, diárias, pagamento de autônomos, trabalho por conta própria, entre outros.

Portanto, estudos sobre a distribuição de renda, com base nos resultados das PNAD’s, não revelam uma parte importantíssima da repartição de rendas no país, justamente aquela apropriada pelos capitalistas.

Em um país com uma estrutura tributária regressiva, onde a maior parte da arrecadação advém de tributos sobre o consumo e a produção (o que faz com que, proporcionalmente aos ricos, os pobres paguem mais); onde a estrutura fiscal, de gastos públicos do Estado, privilegia as despesas financeiras, com o pagamento de uma carga de juros alta e crescente, ano após ano; e onde os serviços públicos voltados à população são péssimos, desconsiderar a parcela da renda que fica com os capitalistas, em estudos sobre distribuição de renda no Brasil, é no mínimo curioso.

Contudo, passou-se a considerar absolutamente trivial a informação sobre uma suposta melhoria na distribuição de renda no Brasil, nos últimos anos. Chegamos ao ponto de passar como algo dado o “surgimento” de uma nova classe média, apenas existente nas planilhas de economistas do mainstream, nas editorias de economia da mídia dominante e nas visões mercadológicas de publicitários. Brasileiros fazendo parte de famílias com rendimentos acima de R$ 1.300,00 se viram, da noite para o dia, “promovidos” à almejada classe média.

O que objetivamente temos experimentado é que, com os aumentos reais do valor do salário mínimo, o impacto desse reajuste na maior parte dos benefícios da Previdência – que hoje correspondente ao valor do salário mínimo – e com a ampliação dos programas de transferência de renda aos miseráveis, de fato, tivemos uma elevação dos rendimentos dos mais pobres, da base da pirâmide populacional brasileira, diminuindo o espaço de diferença entre esses e os brasileiros de maior renda assalariada, ou dependentes de rendimentos do trabalho. Porém, podemos destacar, os ricos e super-ricos ficam de fora dessa conta.

Outra informação relevante para esclarecer essa realidade pode ser obtida junto ao Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Esse órgão calcula mensalmente o valor que deveria corresponder ao salário mínimo, caso a cesta de consumo prevista para o seu atendimento fosse respeitada – incluindo as despesas não somente com alimentação, mas com habitação, transporte, saúde, lazer, entre outras, para uma família com dois adultos e duas crianças, de acordo com o decreto original de sua criação, em 1940.

Por esse cálculo do salário mínimo necessário, o valor correspondente deveria ser (agora, em outubro desse ano de 2011) de R$ 2.329,94. Este seria o valor – mínimo – para se assegurar a subsistência de uma família de quatro pessoas, o que implicaria uma renda média familiar por pessoa de R$ 582,49. Valor, portanto, superior ao atual salário mínimo em vigor, de R$ 545,00. Esses valores nos dão a dimensão da distorção produzida para nos convencer sobre o suposto surgimento do que se chama de “nova classe média”. Na verdade, boa parte dos contemplados com esta nova designação possivelmente sequer poderia estar sendo considerada como pobre, ao menos sob os critérios do que poderíamos considerar como o justo valor de um salário mínimo, digno desse nome.

Reinaldo Gonçalves, professor de economia da UFRJ, em recente estudo – Redução da Desigualdade da Renda no Governo Lula – Análise Comparativa (junho/2011) –, coloca essa discussão em termos mais racionais e com o grau de seriedade que o assunto merece. Entre as principais conclusões de seu trabalho, o professor assinala que há tendência de queda da desigualdade da renda no Brasil no Governo Lula. Entretanto, a redução da desigualdade da renda é fenômeno praticamente generalizado na América Latina, no período 2003-08. Reinaldo lembra que, apesar desse avanço, Brasil., Honduras, Bolívia e Colômbia têm os mais elevados coeficientes de desigualdade na América Latina, que tem, na média, elevados coeficientes de desigualdade pelos padrões internacionais. Além disso, o Brasil experimenta melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, saindo da 4ª posição da lista mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.

Por fim, por tudo isso, não é de se estranhar a informação divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011. Por esse cálculo, baseado em quatro critérios – esperança de vida, média de anos de escolaridade, anos de escolaridade esperados e renda nacional per capita –, o Brasil está em 84º lugar em uma lista de 187 países. No ano passado, estávamos na 73ª posição, entre 169 países.

No âmbito da América Latina, o Brasil ocupa apenas o 20º lugar. Contudo, quando se incorpora a esse cálculo do IDH justamente o grau de desigualdade de renda, nosso país passa a ocupar apenas o 97º lugar, perdendo 13 posições.

Fica clara, assim, mais uma vez, a construção ideológica, planejada e articulada, em curso no Brasil, por parte de governos, mídia dominante, círculos acadêmicos e os partidos da ordem. O objetivo é nos convencer sobre o suposto caminho exitoso do modelo econômico dos bancos e das transnacionais. As reiteradas notícias e informações sobre a melhor distribuição de renda do Brasil têm a rigor apenas uma meta: legitimar o modelo em curso, as políticas econômicas adotadas para a sua viabilização e a demonização de qualquer alternativa que venha a ameaçar os grandes beneficiários da ordem atual.

O texto "Melhor distribuição de renda no Brasil é uma ‘construção ideológica, planejada e articulada’" foi originalmente publicado no site Correio da Cidadania: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6482:manchete041111&catid=58:paulo-passarinho&Itemid=124#comments

Um povo culto é um povo livre

OTÁVIO DUTRA
Estudante de Medicina da Escuela Latinoamericana de Medicina (ELAM) e militante do Coletivo Paulo Petry da União da Juventude Comunista (UJC)

Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro (José Marti)

De 9 a 19 de fevereiro a capital dos cubanos e das cubanas se perfumou de poesia, de conto, de ciência e ficção.

O mundo tornou-se pequeno para as letras e a imaginação desse rebelde povo. Quando nos referimos ao número de visitantes da 21° Feira Internacional do Livro de Cuba não nos basta falar de milhares, mas sim de milhões de cubanos e latino-americanos que participaram desta festa de cultura e conhecimento. Os livros nas mãos do povo, vendidos a modestos preços, também ultrapassam as cifras milionárias, em um país com pouco mais de 11 milhões de habitantes. Crianças conduzidas por seus pais e professores transformam cultura em brincadeira, e seus olhos brilham nas salas de leitura infantis; sua imaginação aflora com cada nova estória. Cada uma das crianças cubanas ganhou um livro infantil a sua escolha.

Os caminhos do histórico Forte de La Havana, que por séculos serviram aos canhões dos dominadores (espanhóis ou estadunidenses), hoje conduzem todo um povo para o único caminho de liberdade: a cultura e o conhecimento. É dessa forma que a revolução cubana muniu seu povo com a mais eficaz arma contra a opressão e a dominação, os livros. Nenhuma outra arma poderia manter e revigorar permanentemente as mais de cinco décadas de construção socialista, décadas de ataques imperialistas incessantes, mas principalmente de criatividade e unidade de um povo que jurou jamais voltar a viver de joelhos. Um povo culto não se submete a ser enganado ou dominado.

Talvez seja este o grande segredo da revolução cubana, que ousou manter seus princípios quando o bloco socialista ruiu com as contra-revoluções dos 80 e 90. Desde a campanha nacional de alfabetização – uma das primeiras medidas revolucionárias – os livros não mais abandonaram a cabeceira dos cubanos e das cubanas. A partir de então, ainda que pobre e bloqueada política e economicamente pelo maior império que a humanidade já conheceu, Cuba transformou-se numa potência científica e no maior pólo de cultura da América Latina, ultrapassando as fronteiras impostas aos povos para levar letras e ações de emancipação ao mundo. Hoje é um dos países do planeta com o maior número de escritores e escritoras registrados per capita, número inigualável nas Américas, e omitido pelos meios de comunicação hegemônicos.

Dessa forma seguem seu caminho os cubanos e as cubanas, com as estantes carregadas de livros nacionais e internacionais, com os punhos preparados para lutar pelo mundo sonhado desde as primeiras revoluções populares, com a convicção científica de que é possível construir uma sociedade de riqueza coletiva e oportunidades iguais, com as mentes cheias de criatividade e com os corações transbordando solidariedade e amor aos oprimidos do mundo.