domingo, 29 de maio de 2011

Sobre os acontecimentos em Espanha

MIGUEL URBANO RODRIGUES


As grandes mobilizações de “indignados” assumem como denúncia central a ausência de democracia autêntica. Neste início do século XXI, no contexto de uma gravíssima crise mundial de civilização, o capitalismo, em fase senil, cola o rótulo de democracia representativa a ditaduras da burguesia de fachada democrática.

Os acontecimentos da Espanha, pelo seu significado, estão a polarizar a atenção da Europa e de milhões de pessoas noutros continentes. Em Washington, Berlim, Paris e Londres, o acampamento da Puerta del Sol, inicialmente encarado como iniciativa folclórica de jovens pequeno burgueses frustrados, gera agora preocupação.

Quando o chamado Movimento M-15 alastrou a dezenas de cidades do país e nas capitais europeias centenas de pessoas se manifestaram frente às embaixadas espanholas, a indiferença evoluiu para um sentimento de temor.

Porquê?

O protesto espanhol insere-se na crise global de civilização que a humanidade enfrenta, cujas raízes arrancam da crise estrutural de um sistema de opressão: o capitalismo.

Seria um erro concluir que os jovens que criaram o Movimento «Democracia Real Ya» são revolucionários e o seu objectivo é a destruição do regime. O M-15 atraiu gente muito diferente. Alguns nem sequer rejeitam a obsoleta e corrupta monarquia bourbonica. Mas rapidamente a contestação popular excedeu as previsões. O Movimento, após a repressão do primeiro dia, foi olhado quase com benevolência pelo PP e pelo PSOE os dois grandes partidos da burguesia. Mas, ao assumir proporções torrenciais, o protesto adquiriu os contornos de uma condenação do regime na qual as massas emergiam como sujeito histórico.

Na Puerta del Sol começaram a ouvir-se brados inesperados: «No al FMI»; «No a la farsa electoral»; «PSOE y PP, la misma gente!»; «Noa las guerras de los EEUU!». Soou até a palavra «Revolução!»

Daí o medo.

Os jovens de Madrid sabem o que não querem, mas a grande maioria não tem uma ideia minimamente clara sobre o que fazer e como actuar. As reivindicações aprovadas a 20 de Maio, na Assembleia do acampamento, são moderadas, algumas ingénuas. Espontaneista, o M-15 não acampa no centro de Madrid em função de uma estratégia de Poder.

Quando aquilo principiou o que unia a multidão heterogénea de jovens pouco mais era que a recusa da caricatura de democracia. Terá sido uma surpresa para o pequeno núcleo inicial a adesão maciça de adultos, de desempregados, de reformados. Foi ainda numa atmosfera de confusão que surgiram as primeiras lideranças embrionarias, os porta-vozes do acampamento.

Jovens entrevistados por media internacionais manifestaram espanto ao tomar conhecimento da repercussão internacional da iniciativa e das concentrações de solidariedade em cidades espanholas e europeias.

DE TUNIS A MADRID

O protesto dos «indignados» de Espanha foi obviamente inspirado pelo modelo da Tunísia e do Egipto. Na época da comunicação instantânea, as redes sociais permitiram que em tempo rapidíssimo os apelos à concentração popular na Puerta del Sol fossem atendidos por milhares de jovens. A praça madrilena foi a Tahrir egípcia.

Tal como ocorrera no Norte de África, a exigência de «democracia» funcionou como motor da mobilização popular.

Mas enquanto nas rebeliões contra Ben Ali e Hosni Mubarak as massas reivindicavam liberdades, eleições livres, um parlamento tradicional, destruição de aparelhos repressivos, o fim de ditaduras ferozes e a sua substituição por regimes representativos similares aos da União Europeia, em Espanha a «democracia real ya» reclamada pelos «indignados» partia dialecticamente da recusa do figurino pelo qual se batiam os africanos.

O que para os árabes era ambição e sonho aparece hoje a muitos dos acampados da Puerta del Sol como caricatura da democracia, rosto de um regime cuja prática nega os valores e princípios que invoca, que concentra a riqueza numa ínfima minoria e promove o desemprego, amplia a desigualdade social.

Enquanto a burguesia tunisina e egípcia se solidarizava com os rebeldes que se manifestavam contra Ali e Mubarak e o imperialismo rompia com os seus aliados da véspera, a burguesia espanhola, os partidos tradicionais e os poderosos da União Europeia condenavam os «indignados» peninsulares, identificando neles arruaceiros de um novo tipo.

Merece reflexão a dualidade antagónica da posição assumida pelo imperialismo americano. Na Casa Branca, o presidente Obama compreendeu que as reivindicações dos rebeldes da Tunísia e do Egipto não colidiam com a sua estratégia para a Região e, agindo com rapidez e eficácia, estimulou e aplaudiu nesses países a instalação de Governos de transição ditos democráticos, sob a tutela de personalidades militares e civis que, com poucas excepções, tinham servido as ditaduras eliminadas. Na Líbia bombardeia Tripoli ; no Golfo pede à Arábia Saudita que afogue em sangue rebeliões incomodas como a do Bahrein, sede da V Esquadra da US Navy.

O imperialismo encara, naturalmente, com desconfiança e apreensão o alastramento do protesto inorgânico dos jovens «indignados». Obama e o Pentágono interrogam-se sobre as consequências imprevisíveis de um movimento que condena com dureza o envolvimento da Espanha nas guerras asiáticas dos EUA.

ADESÕES INTERNACIONAIS

A direita arrasou o PSOE nas eleições municipais de domingo. Os acampados da Puerta del Sol reagiram com indiferença aparente aos resultados. «Eles não nos representam», declararam porta vozes do M-15, sublinhando que na engrenagem do poder, o PSOE e o PP, embora com discursos, histórias , percursos e bases sociais diferentes, praticam no governo politicas neoliberais muito semelhantes, e politicas externas caracterizadas pela submissão às exigências dos EUA e de Bruxelas.

Significativamente, o espaço e o tempo que os media espanhóis dedicaram durante a última semana aos «indignados» diminuíram drasticamente desde sábado. O tema quase desapareceu das primeiras páginas dos grandes jornais e do programa dos canais de televisão. A vitória do PP e o avanço das Autonomias monopolizaram a atenção de políticos, analistas e jornalistas do sistema.

Oposta é a atitude assumida pela maioria dos intelectuais progressistas. Na Espanha e também na América Latina, personalidades de prestigio, em artigos e entrevistas publicados em revistas Web de informação alternativa como Resumen Latino Americano e Rebelión e outras, expressam a sua solidariedade com os jovens do M-15 e reflectem sobre o significado e as consequências da contestação.

Cito alguns exemplos expressivos.

O filósofo e escritor marxista Santiago Alba Rico, num artigo intitulado «La Qasba en Madrid» sublinhou que a Espanha «não é uma democracia». E acrescenta, realista: «Não haverá uma revolução em Espanha. Mas uma surpresa, um milagre, uma tormenta, uma consciência nas trevas, um gesto de dignidade na apatia, um acto de coragem na anuência, uma afirmação anti-publicitaria de juventude, um grito colectivo de democracia na Europa, não é já um pouco uma revolução?»

Carlos Taibo, professor da Universidade Autónoma de Madrid, esteve na Puerta del Sol levando solidariedade, e dirigindo-se aos acampados disse ao saudá-los: «Os que aqui estamos somos, obviamente, pessoas muito diferentes. Temos na cabeça projectos e ideais diferentes. Mas conseguimos, apesar disso, chegar a acordo quanto a um punhado de ideias básicas». E, parafraseando Santiago Alba Rico, afirmou: «Aquilo a que em Espanha chamam democracia, não o é!».

O escritor italiano Carlo Frabetti escreveu: «Desde o protesto dos Goya de 2003 que não se conseguira um aproveitamento tão eficaz de contestaçao interna do sistema e a sua expressão cultural do espectáculo».

Atilio Borón, um sociólogo marxista argentino de prestígio internacional, dedica aos jovens acampados um artigo entusiástico intitulado «Os indignados e a Comuna de Paris». Lembra que aquilo que a democracia de Moncloa propõe para enfrentar a «crise é o despotismo do mercado, irreconciliável com qualquer projecto democrático». E, cedendo a um impulso romântico, conclui o artigo com estas palavras: «Se persistirem (os indignados) na sua luta poderão derrotar a prepotência do capital e, eventualmente, iniciar uma nova etapa na história não só da Espanha, mas da Europa».

Angeles Maestro, a destacada dirigente de «Corriente Roja», da Espanha, mais realista, salienta que os acampamentos em dezenas de cidades espanholas «têm um conteúdo anticapitalista» e neles ondula «uma multidão de bandeiras republicanas». Enfatiza o descrédito da montagem eleitoral e afirma que «As mobilizações maciças que se iniciaram em numerosas cidades do estado espanhol a 15 de Maio e que tiveram continuidade em acampamentos, assembleias e convocatórias para novas manifestações expressam o alto nível de indignação e raiva de uma juventude que não tem qualquer esperança de chegar a ter os direitos básicos que a Constituição pomposamente proclama: direito ao trabalho, à habitação, à educação e saúde publica de qualidade, a uma pensão digna, etc.».

Quanto ao futuro do Movimento, adverte como revolucionaria experiente: «Nos processos sociais não há atalhos. Se é um facto que a faúlha da espontaneidade está sempre presente e serve para desencadear as mobilizaçoes, somente o avanço da organização é a medida da acumulação de forças, e sem acumulação de forças as lutas leva-as o vento.»

AMANHÃ INCERTO

Esperanza Aguirre, a reeleita alcaide de Madrid, não esconde a sua hostilidade aos acampados. Se dela dependesse, declarou, ordenaria à Policia que expulsasse da Puerta del Sol os acampados. A repressão inicial foi esclarecedora da sua posição. Mas carece de poderes para recorrer à força.

Qual o desfecho do protesto dos «indignados»?

Por ora é imprevisivel.

Vai persistir, transformando-se em desafio ao Poder?

Uma Assembleia, improvisada e tumultuosa como as anteriores, decidiu manter manter o acampamento até ao próximo domingo. Durante a semana os activistas irão aos bairros. Depois se verá.

Em Barcelona e noutras cidades, as concentrações de protesto também não se dissolveram, mas os próprios organizadores admitem que o número de participantes diminua nos próximos dias.

Repito: os jovens «indignados» sentem dificuldade em definir um rumo para a luta que iniciaram. A maioria talvez não tenha consciência da complexidade do desafio lançado ao Poder.

Volto a citar Angeles Maestro: «O processo de confluência múltipla em torno a um programa comum somente poderá abrir caminho se criar raízes nas lutas operárias e populares. Por outras palavras, se a construção do referente politico beber a seiva na luta de classes e demonstrar a sua utilidade para abordar um longo processo de acumulação de forças».

A consciência demonstrada pelos «indignados» de Madrid de que a «democracia representativa» é uma ficção no Estado Espanhol deve porém ser saudada como acontecimento importante no âmbito das lutas de massa europeias e não ignorada, subestimada ou mesmo criticada com sobranceria em atitudes irresponsáveis por alguns dirigentes de partidos de esquerda da União Europeia.

Não compartilho a euforia prematura de Atilio Boron, mas julgo oportuno reafirmar que a Espanha não é excepção na Europa. Não há democracia autêntica sem participação decisiva do povo. Na União Europeia um sistema mediático perverso e desinformador esconde a realidade. Os regimes existentes nos 27 diferenciam-se muito. Mas existe um denominador comum: a ausência de uma democracia autêntica. Neste início do século XXI, no contexto de uma gravíssima crise mundial de civilização, o capitalismo, em fase senil, cola o rótulo da democracia representativa a ditaduras da burguesia de fachada democrática.

Vila Nova de Gaia, 23 de Maio de 2011.

O texto "Sobre os acontecimentos em Espanha" foi publicado no site ODiario.infohttp://www.odiario.info/?page_id=4

Assassinado em Rondônia sobrevivente do massacre de Corumbiara

ALTINO MACHADO

Adelino Ramos
O agricultor Adelino Ramos, de 56 anos, que participou da invasão da fazenda Santa Elina, palco do massacre de Corumbiara (RO), em agosto de 1995, foi assassinado na manhã desta sexta-feira (27), no distrito de Vista Alegre do Abunã (RO), enquanto vendia verduras produzidas no acampamento onde vivia.

Acusado pelo Ministério Público como um dos causadores do massacre de Corumbiara, Adelino Ramos foi condenado a oito anos de prisão. Como líder Movimento Camponês Corumbiara (MCC), ele não teria deixado os trabalhadores saírem durante a repressão policial e pistoleiros.

Em junho, durante reunião em Manaus (AM), o camponês denunciou ao ouvidor agrário nacional, Gercino Silva, as ameaças de morte que sofria.

Mais conhecido como Dinho, o ex-líder líder do Movimento Camponês Corumbiara (MCC) estava acompanhado da esposa e duas filhas quando foi abordado e atingido com cinco tiros.

Adelino Ramos era perseguido por latifundiários como um dos líderes do MCC. Ele morava no Assentamento Agroflorestal Curuquetê, em Lábrea, no Amazonas, e denunciava a ação de madeireiros.

Segundo a CPT, Dinho e um grupo de trabalhadores reivindicavam uma área na região para a criação de um assentamento.

No início deste mês, o Ibama iniciou uma operação no local, onde apreendeu madeira e cabeças de gado que estavam em áreas de preservação. A CPT na região acredita que esse foi o motivo da morte do camponês.

Segundo a CPT, o agricultor foi alvejado por um motociclista. Porém, Moradores de Vista Alegre do Abunã contaram que o assassino do agricultor chegou andando em uma rua nas proximidades de uma feira livre.

O homem atirou cinco vezes e continuou andando e se escondeu na mata quando a mulher de Adelino, identificada como Eliana, começou a gritar. Ela está sob proteção policial porque viu o assassino.

O assassinato de Adelino Ramos é o terceiro na Amazônia Legal nesta semana. Na terça-feira (24), José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros numa estrada vicinal em Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

A CPT denuncia que madeireiros estão ameaçando de morte a agricultura Nilcilene Miguel de Lima, de Lábrea, presidente da Associação “Deus Proverá”, no sul do Amazonas.

Assentada na região há sete anos, Nilcilene desenvolve atividades de cultivo familiar ligadas à conservação do meio ambiente, da floresta e ao ativismo social.

A rica e exuberante região de Lábrea, na divisa dos estados do Acre, Rondônia e Amazonas, tem sido palco de muitos conflitos nas últimas décadas por causa da luta pela posse terra, principalmente para pecurária e exploração madeireira.

Presidência da República manifesta “total repúdio e indignação”

Os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República) e Maria do Rosário Nunes (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República) divulgaram uma nota sobre o assassinato do líder camponês Adelino Ramos. Eles manifestam “total repúdio e indignação”.

Eis a nota:

1 – Adelino era uma liderança reconhecida na região Norte do país, sendo presidente do Movimento Camponeses Corumbiara e da Associação dos Camponeses do Amazonas. Dinho, como era conhecido, morava em um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com outras famílias e seu grupo buscava regularizar sua produção. Segundo lideranças locais, ele vinha recebendo ameaças de morte de madeireiros da região. Na manhã de hoje, na companhia de sua família, ele foi executado a tiros no município localizado na divisa dos estados de Rondônia, Acre e Amazonas. Cabe ressaltar que ele era um remanescente do massacre de Corumbiara, ocorrido em 9 de agosto de 1995, que resultou na morte de 13 pessoas.

2 – O assassinato de Adelino Ramos merece o nosso total repúdio e indignação. Há três dias o Brasil se chocou com a execução de duas lideranças em circunstâncias semelhantes, no Pará. Hoje, mais uma morte provavelmente provocada pela perseguição aos movimentos sociais. Essas práticas não podem ser rotina em nosso país e precisam de um basta imediato.

3 – Segundo levantamento conjunto da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e da Ouvidoria Agrária Nacional, desde 2001, já foram registrados 71 assassinatos em Rondônia motivados por questões agrárias. Mais de 90% dos casos ficaram sem punição.

4 – Imediatamente ao recebimento da notícia, entramos em contato com a Polícia Civil, com o governador do estado de Rondônia e com a Polícia Federal, exigindo a mais rigorosa atitude para investigar o caso e punir os criminosos, tanto os executores como os possíveis mandantes. É necessária uma ação enérgica e exemplar. Só coibiremos essa violência absurda quando acabarmos com a impunidade.

5 – O governo brasileiro não tolera que crimes como esses aconteçam e fiquem impunes no nosso país. Nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff já determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações no Pará, numa atitude enérgica e clara de que crimes como esses não podem se tornar uma prática rotineira em nosso país. Acompanharemos de perto os desdobramentos para garantir justiça. É isso que se espera de um Estado democrático de direito e é assim que o governo procederá.


O texto "Assassinado em Rondônia sobrevivente do massacre de Corumbiara" foi originalmente publicado no Blog da Amazôniahttp://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2011/05/27/assassinado-em-rondonia-sobrevivente-do-massacre-de-corumbiara/#comments

sexta-feira, 27 de maio de 2011

SIONISTAS TENTAM CRIMINALIZAR O PCB E CASSAR O REGISTRO DO PARTIDO NO TSE

NOTA POLÍTICA DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
Fomos informados de que uma entidade chamada CONIB (Confederação Israelita do Brasil) teria formalizado, no início deste mês, representação contra o PCB (Partido Comunista Brasileiro), junto ao TSE, alegando prática de “antissemitismo”, por ter a página do partido na internet publicado artigo denominado “Os Donos do Sistema: o Poder Oculto; de Onde Nasce a Impunidade de Israel”.
Na apresentação de seu portal, a entidade se assume sionista, posiciona-se “na linha de frente do combate ao antissemitismo” e oferece “links” para todas as organizações sionistas de Israel, dos Estados Unidos e de âmbito mundial ou nacionais, a imensa maioria de direita.
Apesar de ainda não conhecermos os termos da representação (não divulgada pela entidade), inferimos que sua verdadeira intenção é tentar cassar o registro do PCB, como se se fosse possível calar a voz dos verdadeiros comunistas brasileiros. Nosso partido – o mais antigo do Brasil, fundado em 1922 - foi escolhido criteriosamente para esta ofensiva por razões que nos orgulham. Além de lutarmos pela superação do capitalismo, praticamos com firmeza e independência o internacionalismo proletário, a solidariedade a todos os povos em luta contra o imperialismo e o sionismo, cujo significado não se refere ao seu conteúdo original, mas ao caráter atual do movimento, hegemonicamente fascista e imperialista.
A nosso ver, trata-se de uma ação política, muito mais do que jurídica.
O texto que provocou a reação da CONIB é de autoria do jornalista argentino Manuel Freytas, divulgado originalmente no sítio eletrônico IAR Notícias, e reproduzido mundialmente em pelo menos mais de trinta portais progressistas e anti-imperialistas, listados ao final desta nota.
Segundo a apócrifa nota publicada pela citada CONIB (www.conib.org.br), o texto se utiliza“de imagens apelativas, distorções da realidade e argumentos conspiratórios e claramente anti-semitas”, revelando “alto grau de desconhecimento do cenário político-econômico internacional”, por repetir (agora no século 21!) chavões da obra “Os Protocolos dos Sábios de Sião, farsa montada pela polícia czarista da Rússia, no século 19”. Assim, o PCB é acusado de “incentivar a discriminação e a proliferação da intolerância religiosa, étnica e racial em nosso país”.
Termina a nota afirmando que a representação baseia-se na Lei Orgânica dos Partidos Políticos, com a “finalidade de evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira”.
Diante deste fato, o PCB vem a público se pronunciar:
1 – O PCB não se intimidará diante da pressão de organizações sionistas de direita e continuará prestando ampla, geral e irrestrita solidariedade ao povo palestino, vítima da escandalosa impunidade de Israel, tema do artigo considerado ofensivo. Desrespeitando todas as Resoluções da ONU, o estado israelense continua ampliando a ocupação de territórios dos palestinos, derrubando suas casas, criando o chamado “Muro do Apartheid”, invadindo e cercando a Faixa de Gaza, onde impede a entrada de ajuda humanitária (inclusive alimentos e medicamentos), assassinando e prendendo militantes palestinos, mantendo mais de 11.000 deles em condições abjetas em seus cárceres. Mais do que isso, continuaremos a denunciar que Israel se transformou numa enorme base militar norte-americana no Oriente Médio. O país é o primeiro destino da ajuda militar estadunidense no mundo e o único do Oriente Médio a ter direito a armas nucleares, sem permitir a inspeção internacional que exige de outros países.
2 – Esta ofensiva contra o PCB se deve ao fato de que apoiamos e participamos dos diversos Comitês de Solidariedade ao Povo Palestino que se consolidam e se multiplicam pelo Brasil. No nosso portal, este texto foi escolhido aleatoriamente, pois com uma simples pesquisa se pode verificar que ali os artigos e informações sobre a luta contra a política terrorista do Estado de Israel se contam às centenas, muitos deles mais contundentes que o escolhido para ofender a liberdade de imprensa consagrada em nosso país e tentar intimidar e criminalizar o PCB. Publicamo-lo exatamente há um ano, mas só agora ele foi “descoberto”.
3 – É significativo que esta atitude intimidatória (que está se dando em vários países) ocorra no exato momento em que as duas maiores organizações políticas palestinas (Fatah e Hamas) anunciam a retomada de seus entendimentos e o desejo de dividir a responsabilidade pela administração dos territórios palestinos, que foram separados arbitrariamente pelas forças militares israelenses com o uso da violência e da ocupação.
4 – A unidade dessas duas organizações contraria os planos imperialistas de divisão sectária entre os palestinos – exatamente porque cria melhores condições para o reconhecimento internacional do Estado Palestino e para uma negociação pela paz na região -, tudo que Israel não deseja, apesar das reiteradas resoluções da ONU nesse sentido.
5 – Esta atitude arbitrária de perseguição política coincide também com a satanização do mundo muçulmano, este sim vítima de preconceitos e estigmatização, sem que a mídia burguesa se utilize de expressões como “anti-islamismo”, “anti-xiitismo”, “anti-sunitismo” etc. Coincide também com a proximidade da Assembleia Geral da ONU que, no próximo mês de setembro, discutirá o reconhecimento do Estado Palestino.
6 - Coincide ainda com a movimentação imperialista para ampliar seletivamente a agressão militar no Norte da África e no Oriente Médio, para além do Iraque e do Afeganistão. Coincide com a descarada intervenção militar na Líbia, com as provocações contra a Síria e o Irã, acusados de solidários aos palestinos e de apoio ao “terrorismo”.
7 - As raivosas declarações das autoridades israelenses sobre a unidade das citadas organizações políticas palestinas deixam em evidência que Israel não tem qualquer interesse na paz na região e muito menos na criação do Estado Palestino. Fica claro que o objetivo do sionismo é ocupar todo o território palestino, através dos assentamentos ilegais, transformando o antigo território palestino no que chamam de Grande Israel, para inviabilizar na prática uma decisão da ONU, de 1948 - da coexistência pacífica de dois Estados, no território até então exclusivamente palestino -, boicotada pelos israelenses há mais de sessenta anos!
8 – Não tememos qualquer processo judicial, porque conhecemos as leis brasileiras, que têm como cláusula pétrea constitucional o livre direito de expressão e a proibição da censura.
9 – Mesmo que prosperasse esta absurda afronta às liberdades democráticas, estamos certos de que teríamos a solidariedade firme e militante de centenas de organizações políticas e sociais e personalidades democráticas, não só do Brasil, mas de todo o mundo.
10 – Não há, em qualquer documento do PCB, qualquer intolerância religiosa, étnica e racial contra qualquer povo ou comunidade. Criticar a direita sionista não significa criticar a comunidade judaica que, no Brasil e no mundo, é composta também por militantes democratas, humanistas e comunistas, que lutam contra a política terrorista e imperialista do Estado de Israel e se solidarizam com o povo palestino. O PCB tem uma vasta e orgulhosa tradição, desde a sua fundação até os dias de hoje, de contar com militantes e amigos de origem judaica.
11 - Os comunistas, em todo o mundo, somos contra qualquer intolerância religiosa ou étnica, contra preconceitos e nacionalismos xenófobos, porque lutamos por um mundo de iguais, sem fronteiras, sem Estado, sem forças armadas, sem opressores e oprimidos. Não entendemos o que a CONIB quer dizer com a expressão “intolerância racial”, pois todos os povos pertencem à mesma raça humana. A não ser que assim pensem os que se acreditam pertencentes a uma “raça superior”, escolhida por alguma divindade.
12 - Os comunistas do mundo inteiro tiveram papel decisivo na luta contra o nazi-fascismo que vitimou dramaticamente os judeus, mas também a muitos outros povos. O povo russo, dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética, foi o que entregou mais vidas em defesa da humanidade, mais de 20 milhões, principalmente de seus jovens.
13 – O sítio do PCB na internet é um espaço de difusão não apenas das opiniões do Partido, mas de outras organizações e personalidades com alguma afinidade política, porque objetiva também prestar informação e fomentar o debate sobre questões candentes, nacionais e internacionais. Na primeira página de nosso portal (www.pcb.org.br), deixamos claro que:
Só publicamos nesta página textos que coadunam, no fundamental, com a linha política do PCB, a critério dos editores (Secretariado Nacional do CC). Quando não assinados por instâncias do CC, os textos publicados refletem a opinião dos autores”.
14 - Com o texto questionado pela central sionista brasileira temos uma identidade política, na medida em que ele denuncia a impunidade de Israel, os massacres que este Estado comete contra o povo palestino, o seu importante papel econômico e militar no contexto do imperialismo. Publicamo-lo como contribuição a um debate necessário, ainda que algumas opiniões ali expostas possam diferir, em alguns aspectos, de nossa análise marxista da luta de classes no âmbito mundial. Para nós, o sionismo não é o “Comitê Central” do imperialismo nem o único “dono do poder”, mas sócio e parte importante de sua engrenagem, uma significativa linha auxiliar com forte lobby internacional, enorme peso na mídia hegemômica, na economia mundial e na máquina de guerra imperialista.
15 – Sem preocupação com ameaças de qualquer tipo, estamos aqui oficialmente oferecendo à direção da Confederação Israelita do Brasil o direito de resposta, no mesmo espaço em que divulgamos o artigo criticado, para que a entidade possa se contrapor aos argumentos expostos pelo autor do texto “Os Donos do Sistema”. Como certamente o texto da CONIB será uma exceção ao nosso critério da afinidade política, nos reservaremos o direito de publicá-lo com comentários de nosso Partido.
16 – Este convite, além de democrático, atende à preocupação da CONIB, embora injustificada, de que sua finalidade, ao adotar a medida judicial, é “evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira”. Portanto, estejam à vontade para enviar ao nosso endereço eletrônico os seus pontos de vista.
17 – Esperamos também que a recíproca seja verdadeira, ou seja, que a CONIB publique em sua página a íntegra da presente nota política do PCB. Aproveitamos para sugerir que, no documento que nos mandarem, possamos conhecer suas posições em relação às Resoluções do último Congresso Nacional do PCB, a respeito do tema, e que transcrevemos aqui na íntegra:
XIV Congresso Nacional do PCB (outubro de 2009):
DECLARAÇÃO DE APOIO À CONSTRUÇÃO DO ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR E LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO:
1) Pelo fim imediato da ocupação israelense nos territórios tomados em 1967, fazendo valer o inalienável direito à autodeterminação do povo palestino sobre estes territórios;
2) Aplicação de todas as resoluções internacionais não acatadas pelo sionismo;
3) Garantia aos refugiados (atualmente, 65% da totalidade do povo palestino) de retorno às terras de onde foram expulsos (Resolução 194 da ONU);
4) Libertação imediata dos cerca de 11.000 prisioneiros, entre eles Ahmad Saadat, Secretário Geral da FPLP, e outros dirigentes da esquerda;
5) Reconstrução da OLP, ou seja, reconstrução da unidade política necessária às tarefas que estão colocadas para o bravo povo palestino, com garantia de participação democrática de todas as forças políticas representativas dos palestinos;
6) Apoio irrestrito a todas as formas de resistência do povo palestino;
7) Destruição do muro do apartheid, conforme resolução do Tribunal de Haia;
8) Demolição e retirada de todos os assentamentos judaicos na Cisjordânia/Jerusalém;
9) Fim imediato do bloqueio assassino a Gaza;
10) Pelo fomento de campanha internacional para levar os criminosos de guerra sionistas aos tribunais de justiça, dentre os quais, o Tribunal Internacional de Haia.
11) Estabelecimento de sólida relação entre os partidos comunistas irmãos para concretizar ações de solidariedade e, em especial, apoio logístico à materialização desta luta;
12) Apoio a todas as iniciativas que visem estreitar laços entre os partidos da esquerda palestina, em especial a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Partido do Povo Palestino, em unidade concreta programática e de ação.
POR UM ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR, LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO! PELA TOTAL INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DOS TERRITÓRIOS OCUPADOS EM 1967! PELO RETORNO DOS REFUGIADOS E JERUSALÉM CAPITAL! LIBERTAÇÃO DE TODOS OS 11.000 PRISIONEIROS PALESTINOS! PELA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL DOS CRIMINOSOS DE GUERRA!
18 – Mas voltando ao artigo que gerou a representação, para que as críticas da CONIB se centrem na contestação às informações ali prestadas - ao invés de se esconderem sob o manto autoritário do carimbo “antissemita” -, sugerimos que releiam o texto, sem sectarismo nem preconceito. Verão que ele pode ter equívocos na forma de sua correta condenação ao Estado de Israel, mas não tem qualquer intolerância religiosa ou étnica.
19 – O texto, em nenhum momento, atinge o povo judeu, mas à sua liderança hegemônica - direitista, sionista e terrorista - deixando claro que nem todos os judeus concordam com seus métodos e que há vários intelectuais, organizações e militantes judeus que condenam e protestam contra o genocídio em Gaza e outras violências do Estado de Israel.
20 – Leiamos novamente algumas passagens do artigo de Manuel Freytas:
Israel não invadiu nem perpetrou um genocídio militar em Gaza com a religião judia, senão com aviões F-16, bombas de rácimo, helicópteros Apache, tanques, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de extermínio militar em grande escala. Quem questione esse massacre é condenado por "anti-semita" pelo poder judeu mundial distribuído pelo mundo”.
O lobby sionista pró-israelense não reza nas sinagogas, senão na Catedral de Wall Street: um detalhe a ter em conta, para não confundir a religião com o mito e com o negócio”.
As campanhas de denúncia de antissemitismo com as quais Israel e organizações judias buscam neutralizar as críticas contra o massacre, abordam a questão como se o sionismo judeu (sustentáculo do Estado de Israel) fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interativamente o plano econômico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas”.
A esse poder (o lobby sionista internacional), e não ao Estado de Israel, é o que temem os presidentes, políticos, jornalistas e intelectuais que calam ou deformam diariamente os genocídios de Israel no Oriente Médio, temerosos de ficarem sepultados em vida, sob a lápide do "antissemitismo".
22 - Estejam certos de que não calarão nem sepultarão o PCB em vida, tarefa que não foi possível nem para as mais cruéis ditaduras de direita que marcaram a história do nosso país. Prenderam, exilaram, assassinaram, desapareceram com muitos comunistas, no Brasil e no mundo, por lutarem contra a opressão, pela autodeterminação dos povos, pelas liberdades democráticas e contra o nazi-fascismo.
Exigimos respeito!
Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Maio de 2011
Observações:
1 – Este e outros artigos de Manuel Freytas são publicados, entre muitos outros, nos seguintes sítios:
2 - Segundo levantamento feito pela Federação Árabe-Palestina, apenas em 2011, a CIA destinou 120 milhões de dólares, para financiar o sistema de difamação da religião islâmica no Brasil.
3 – O mesmo texto usado pelo sionismo contra o PCB é usado como pretexto para o mesmo tipo de ação intimidatória na Venezuela, num relatório denominado “Antisemitismo en Venezuela”, de autoria de uma organização à qual a CONIB é ligada, chamada ADL (Anti-Defamation League), que em português significa Liga contra a Difamação. Apesar do nome genérico da entidade, ela só criminaliza e intimida o que considera difamação “anti-semita”. Veja a página 16 do sítio http://www.adl.org.
4 – neste momento, Israel está usando os céus da Grécia, por autorização do governo local, para treinar seus pilotos e testar seus aviões militares para um possível ataque ao Irã, cuja topografia tem características semelhantes às do país helênico.
5 – nos próximos dias, estaremos publicando aqui nesta página vários textos de judeus progressistas e comunistas, inclusive israelenses, contra o sionismo e a utilização do carimbo “antissemitismo” como forma de censurar denúncias contra o Estado de Israel.

domingo, 22 de maio de 2011

Viaduto, não à privatização

ALDACIR FLORES
Presidente da Associação Representativa e Cultural dos Comerciantes do Viaduto Otávio Rocha

Viaduto Otávio Rocha - fotografia: Ricardo Giusti / Prefeitura Municipal de Porto Alegre

A história do Viaduto Otávio Rocha está associada aos tradicionais comerciantes estabelecidos sob seus arcos. E através da Associação Representativa e Cultural dos Comerciantes do Viaduto Otávio RochaARCCOV- buscamos um diálogo franco com a sociedade e os poderes públicos. Lutamos para que acabe a anarquia institucionalizada, depredações e pichações deste importante patrimônio público, uma das edificações mais belas e importantes do Centro Histórico.

Queremos a instituição do fundo de apoio e fomento e que o EPAHC e a Secretaria de Cultura assumam o seu verdadeiro papel junto a este patrimônio tombado. O projeto de lei que cria o fundo está tramitando há muito tempo na Câmara de Vereadores, apresentado conjuntamente pelos Vereadores Airton Ferronato e Sofia Cavedon. Não buscamos privilégios descabidos, mas o mesmo tratamento que foi dado anteriormente aos permissionários do 2º piso do Mercado Público.

Não ignoramos a importância do nosso querido Viaduto, mais ainda com a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e o movimento especulativo imobiliario que virá com o evento e os seus reais objetivos, ao denegrir a imagem dos permissionários e atirar sobre nossos ombros a responsabilidade pela falta de higiene, de segurança e da deterioração que reina neste espaço público.

Lutamos pela restauração com qualidade, a revitalização e principalmente a humanização, e não apenas ações paliativas, como a realizada pela Prefeitura através do DMLU, "restaurando” o Viaduto para as comemorações dos 78 anos com uma mera lavagem de água e sabão, uma maquiagem dos graves problemas de infiltração que atingem as lojas sob o Viaduto Otávio Rocha.

Conclamamos ao porto-alegrense a cerrar fileiras nesta luta, pela restauração com qualidade desta obra de arte que é orgulho do Estado. Não à privatização e sim pela permanência dos permissionários, em defesa de nossa identidade sociocultural da cidade.

O texto "Viaduto, não à privatização" foi originalmente publicado na edição 155 do Jornal do Centrohttp://www.jornaldocentro.com.br/opiniao_155.html

Tráfico de influência: Palocci operou a fusão Itaú-Unibanco e favoreceu dezenas de empresas

VITOR VIEIRA

BENETT
Nada mudou no "Reino da Dinamarca" - Deputados vazam que Palocci operou a fusão Itaú-Unibanco e favoreceu dezenas de empresas

O jornalista Jorge Serrão, no blog Alerta Total, nesta quarta-feira, divulga informações explosivas contra Antonio Palocci. Diz a matéria: "Em absoluto sigilo, o médico, ex-ministro da Fazenda de Lula e deputado federal Antônio Palocci Filho, foi um dos “cirurgiões” contratados e muito bem pagos para coordenar a complicadíssima fusão entre os bancos Itaú e Unibanco, em novembro de 2008. A empresa de Palocci – com todo o conhecimento do ex-governador José Serra – também prestou serviços às empreiteiras que atuaram na obra do Rodoanel, em São Paulo.

A consultoria de Palocci tinha (ou tem?) parcerias com o advogado e também consultor José Dirceu – também ex-ministro da Casa Civil, até o ser derrubado pelo escândalo do Mensalão. Mas esses foram apenas dois entre as dezenas de trabalhos de Palocci que fizeram sua empresa Projeto Consultoria, Planejamento e Eventos Ltda arrecadar – pelo menos oficialmente - R$ 7,4 milhões, desde 2006. Deputados de oposição vazaram para alguns jornalistas, ontem à noite, a lista de empresas para quem o atual ministro-chefe da Casa Civil trabalhou (ou ainda trabalha?). Os sigilosos contratos de Palocci foram (ou são) com as maiores empresas que atuam no Brasil. Por isso, pode ser ainda maior que 20 vezes o surpreendente crescimento de seu patrimônio pessoal, nos últimos quatro anos.

Na inconfidência cometida por deputados, Palocci prestou assessoria internacional para as Organizações Globo. Palocci é um dos principais tocadores da Operação Copa do Mundo, junto com o companheiro José Dirceu. Também pilota, pessoalmente, o modelo de concessão de áreas dos aeroportos. Ele e Dirceu prestam consultorias para grandes empresas na área de telecomunicações. O agora revelado poder de relacionamento empresarial de Palocci explica por que Henrique Meirelles preferiu tirar o corpo fora do governo.

A lista vazada do portifólio de Palocci é longa. Além do Itaú-Unibanco, na área financeira, o principal ministro de Dilma Rousseff trabalhou para a Bradesco Holding. Até a EBX do bilionário Eike Batista usou os bons serviços do “doutor” Palocci. A Petrobrás e a Vale também usaram os sigilosos serviços do ilustre consultor. Tamanho prestígio indica que o verdadeiro fiador e articulador econômico-financeiro da eleição de Dilma Rousseff foi Palocci – e não o ex-presidente Lula. Além das empresas já citadas, foram clientes de Palocci, na versão vazada pelos deputados (que um repórter de um grande jornal gaúcho e uma famosa colunista das Organizações Globo preferiram não divulgar), pelo menos por enquanto: Pão de Açúcar, Íbis, LG, Samsung, Claro-Embratel, TIM, Oi, Sadia Holding, Embraer Holding, Dafra, Hyundai Naval, Halliburton, Volkswagen, Gol, Toyota, Azul, Vinícola Aurora, Siemens, Royal (transatlânticos).

Deputados vazaram a lista de clientes sigilosos de Palocci em retaliação ao conteúdo do e-mail enviado ontem (terça-feira) pela Casa Civil, falando em nome do ministro, aos líderes partidários. A bronca foi com um item da nota oficial alegando que a nota que “o ministro não manteve nenhuma atividade vedada quando era deputado e que 273 deputados federais e senadores da atual legislatura são sócios de estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviços ou de atividade rural". A nota também irritou Pedro Malan, Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Persio Arida, Mailson da Nóbrega e André Lara Rezende – citados como pessoas que viraram banqueiros e consultores de prestígio quando deixaram o governo federal.

Palocci esclareceu que todas informações sobre seu patrimônio estão na sua declaração de renda de pessoa física e que todos os dados fiscais e contábeis da empresa Projeto são enviados regularmente à Receita Federal:

-“Não há nenhuma vedação que parlamentares exerçam atividade empresarial, como o atesta a grande presença de advogados, pecuaristas e industriais no Congresso. Levantamento recente mostrou que 273 deputados federais e senadores da atual legislatura são sócios de estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviços ou de atividade rural”.

-“No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a estes profissionais mo mercado. Não por outra razão, muitos se tornaram em poucos anos, banqueiros como os ex. Pres. do BACEN e BNDES Pérsio Arida e André Lara Rezende, diretores de instituições financeiras como o ex-ministro Pedro Malan ou consultores de prestígio como ex-ministro Mailson da Nóbrega”.

-“Muitos Ministros importantes também fizeram o percurso inverso, vieram do setor privado para o governo, tomando as precauções devidas para evitar conflitos de interesse, como o ex-ministro Alcides Tápias, ex-diretor de importante instituição financeira, os ex-presidentes do BC Armínio Fraga, antes gestor de um grande fundo de investimentos internacional e Henrique Meirelles, com longa trajetória no mercado financeiro. Os mecanismos utilizados pelo ministro Palocci para impedir qualquer conflito de interesses foram os mesmos adotados pelos citados”.

A nota da Casa Civil alega que hoje a empresa de Palocci “tem como única finalidade a administração de seus dois imóveis em São Paulo”:

-“O objeto social da sociedade foi modificado antes da posse como Ministro para vedar qualquer prestação de serviço que implique conflito de interesse com o exercício de cargo público, nos termos da legislação vigente. A gestão dos recursos financeiros da empresa foi transferida a uma gestora de recursos, que tem autonomia contratual para realizar aplicações e resgates, de modo a evitar conflito de interesse”.

O texto "Tráfico de influência: Palocci operou a fusão Itaú-Unibanco e favoreceu dezenas de empresas" foi originalmente publicado no site da Agência Serra: http://www.agenciaserra.com.br/ler_noticia.php?acao=noticia&id=8917

Corte Suprema de Justiça da Colômbia desqualifica os arquivos do computador bombardeado como provas legais

DICK EMANUELSSON
Jornalista responsável pelo blog LATINAMERIKA I DAG / LATINOAMÉRICA DE HOY



São esses supostos arquivos do Word contra o jornalista sueco Joaquín Pérez Becerra, editor da agência de notícias, ANNCOL, que agora caem por decisão da Suprema Corte de Justiça. Logo o jornalista sueco poderá voar para a Suécia, reencontrar sua família e amigos, porque ser editor de um meio alternativo e crítico contra o terrorismo de Estado na Colômbia, não é um delito.

TEGUCIGALPA / 18-05-2011 / Numa decisão que deve causar semanas de insônia aos generais, promotores e a dupla Uribe & Santos, a Suprema Corte da Colômbia desclassificou os “supostos” arquivos do computador do assassinado chefe guerrilheiro Raúl Reyes. Como consequência da decisão, todos os processos jurídicos que foram iniciados ou estão para iniciar com a fundamentação dos arquivos caíram.

O líder guerrilheiro foi morto quando seu acampamento foi bombardeado em 1º de março de 2008, há 1,7 quilômetros adentro do território equatoriano. A aviação colombiana enviou vários mísseis de 500 quilos ao acampamento, seguidos por uma frota de helicópteros Black&Hawks, que lançaram tiros e rajadas de metralhadoras aos guerrilheiros. O último passo foi a invasão direta das tropas terrestres, contingentes das Forças Especiais, que deram tiros de graça, contra vários guerrilheiros que estavam gravemente feridos e, também, contra quatro estudantes mexicanos.

O fato de que os laptops tinham “sobrevivido” a semelhante bombardeio que tirou a vida de 25 guerrilheiros, vinha sendo muito questionado pelos especialistas no assunto.

Porém, o motivo lógico da decisão da Corte foi que os três laptops e umas memórias USB ficaram em poder dos Comandos Especiais do exército durante três dias consecutivos e não nas mãos da polícia Jurídica.

A própria Interpol constatou, em sua investigação sobre os computadores, que mais de 48.000 arquivos tinham sido removidos, movidos, trocados, apagados e que vários arquivos tinham data e ano de 2014 ou outros anos. Isto confirma que os militares não só tinham copiado os supostos discos rígidos, mas também os tinham manipulado da maneira mais descarada.

O ex-presidente Álvaro Uribe e seu então ministro de defesa, Juan Manuel Santos, hoje presidente, entregaram cópias dos discos ao Centro Britânico de Estudos Estratégicos (ISIS). Este instituto é conhecido por ser dirigido por ex-agentes da CIA e outros personagens conhecidos pela simpatia à direita. Em 10 de maio, o ISIS começou uma literal comercialização dos supostos arquivos do laptop de Raúl Reyes, acusando tanto o presidente Hugo Chavez como o presidente do Equador, Rafael Correa, de terem ligações diretas com a guerrilha das FARC.

Também é importante sublinhar que os supostos arquivos do computador de Raúl Reyes não são correios eletrônicos (e-mails), mas arquivos do software Office Word, o que um capitão do exército declarava há dois anos.

E são esses arquivos de Word que o juiz aceitou como “provas” no processo judicial contra o jornalista sueco Joaquín Pérez Becerra. Becerra, editor da agência de notícias, ANNCOL, foi deportado da Venezuela, onde chegou em 22 de abril procedente da Suécia, para a Colômbia, em 25 de abril.

Se cumprida a decisão da Corte Suprema de Justiça, o jornalista sueco poderá voar o mais rápido possível para a Suécia, para reencontrar sua família e amigos.

As Forças Militares colombianas possuem uma unidade especial chamada “Departamento E-5”. Lá, trabalham os maiores jornalistas colombianos, recrutados para promover o trabalho propagandístico de um dos atores da guerra.

Essa parte psicológica da guerra vem sendo consideravelmente reforçada durante a última década. Os militares possuem emissoras de rádio e canais de televisão em todo o território nacional que possuem uma audiência considerável, comparados com as grandes estações nacionais, como Caracol e RCN.

É um segredo público entre os jornalistas na Colômbia que, justamente o “Departamento E-5”, tenha sido delegado de criar, modificar e manipular arquivos para serem usados como “provas” contra opositores na Colômbia e no exterior. E, assim, o laptop de Raúl Reyes era considerado um verdadeiro “tesouro” para esses porta-vozes da guerra na Colômbia.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

O texto "Corte Suprema de Justiça da Colômbia desqualifica os arquivos do computador bombardeado como provas legais" foi traduzido da sua versão publicada em espanhol no blog Carlos Lozano G.http://carloslozanoguillen.blogspot.com/2011/05/ultima-hora-corte-suprema-de-justicia.html

Nelson Werneck Sodré

CARLOS HEITOR CONY

Nelson Werneck Sodré (1911-99)
RIO DE JANEIRO - Entre os centenários que, neste ano, estão sendo comemorados, destaco o de um dos homens que mais me impressionaram pela sua cultura e dignidade.

Não o conhecia pessoalmente, mas lia os seus livros com prazer e proveito. Logo no início da quartelada de 1964, estava preso numa das fortalezas da Guanabara, fora dos primeiros a ser punido pelos seus colegas de farda, pois se tratava de um general cujo pensamento desagradava aos homens que haviam tomado o poder.

Todos os que o conheceram tinham a certeza de que era um dos homens mais íntegros de nossa paisagem intelectual. Podiam discordar dele, mas sabiam que Nelson Werneck Sodré (1911-99) colocava, acima de tudo, a dignidade do ser humano, a sua e a dos outros. Sua obra abrange três segmentos interativos pela sua cultura de fundo humanístico: a literatura, a sociologia e a história. Foi mestre nos três departamentos.

Tornou-se citação obrigatória de todos os pesquisadores que estudam o processo brasileiro como um todo, e não em seus departamentos estanques.

Um texto de Nelson Werneck Sodré sobre Machado de Assis ou sobre um dos nossos ciclos econômicos se destaca pela abrangência de sua visão. Conhecia o geral e chegava ao particular. Sabia ver a árvore e a floresta.

Um dos líderes mais respeitados da nossa intelectualidade, nunca se deixou fascinar pela badalação inconsequente de certa época, nem pelo radicalismo carreirista que marcou a carreira de tantos. Nunca deixou de ser um ponto de referência do pensamento brasileiro. Teórico do nacionalismo, jamais se tornou xenófobo.

Recusou cargos, compensações e homenagens. Viveu austeramente. Formava o escalão mais consciente da esquerda que ele procurou ensinar, explicar e pela qual sacrificou sua vida.

O texto "Nelson Werneck Sodré" foi originalmente publicado na edição de 19 de maio de 2011 da Folha de S. Paulohttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905201105.htm

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O comunismo jovem do Partidão

DA REDAÇÃO DO SITE FAZENDO MEDIA - 29/04/2011

Ele está no inconsciente afetivo de todos os militantes de esquerda. Figura nas mais belas páginas dos melhores livros de História. Permanece como referência histórica nos mais distintos debates de diferentes setores progressistas. E continua à esquerda, sob qualquer conjuntura. O partidão, ou Partido Comunista Brasileiro (PCB), sofreu muito com os revezes históricos. Os rachas das décadas de 1980 e 1990, e a devastação neoliberal do mesmo período, o fragilizaram bastante. Entretanto, um processo lento de recuperação já toma fôlego há alguns anos. O que encanta, sobretudo, no período atual, é o crescimento de uma juventude combativa e bem posicionada vinculada ao partido. A União da Juventude Comunista (UJC) soma ao crescimento em número de militantes o crescimento de politização, e um projeto sério de inserção nas lutas sociais sob a ótica do novo comunista jovem.

“É impensável pensar essa rearticulação da UJC, dentro dessa linha revolucionária, separada do próprio processo de reconstrução do PCB. A UJC só consegue se reorganizar em 2006, quando o partido formaliza uma posição sobre sua visão estratégica da sociedade brasileira”, afirma Luís Fernandes, integrante da coordenação nacional da UJC. Vencidos os processos autofágicos internos, o PCB volta a se estruturar, principalmente no início deste século. E volta a visualizar a necessidade de se organizar a juventude. Em 2006, depois de muitos anos, a UJC consegue organizar um congresso nacional. Viria a se articular novamente, em 2009, para dar vida a novo congresso.

A partir dessa melhor organização, com linha estratégica definida e militância ativa, a UJC começa a ganhar corpo novamente, e formar quadros qualificados. Ivan Pinheiro, secretário-geral do PCB e candidato à Presidência da República em 2010, avalia com otimismo o crescimento da organização. “A UJC não garantirá apenas um futuro burocrático para o PCB, mas um futuro revolucionário e internacionalista. É a primeira geração de comunistas que não viveram as deformações do reformismo que prevaleceu no PCB em décadas passadas e que entrou no Partido em pleno processo de sua reconstrução revolucionária”. Hoje, a UJC está organizada em, pelo menos, 15 estados, com boa intervenção, fazendo discussões específicas da juventude.

Em alguns estados, é mais forte entre a juventude trabalhadora. Em outros, articula-se com maior consistência dentro do movimento estudantil, ou mesmo junto ao movimento cultural – uma tradição entre os comunistas. Devido às dificuldades financeiras, e à ausência no universo institucional – o que não consideram problema –, os jovens não conseguem manter militantes voltados exclusivamente para a organização. No entanto, têm uma preocupação crescente com a qualificação de seus quadros. “A gente tem hoje uma linha estratégica bastante coerente e coesa. Não queremos virar uma organização inchada, sem intervenção qualitativa na sociedade. A gente quer crescer, ganhar capilaridade, mas o que a gente mais preza é ter uma intervenção qualitativa”, afirma Luís.

Uma das estratégias da UJC para ampliar sua atuação política, com ganhos qualitativos, é a parceria com a sociedade organizada. Seus jovens militantes estão, cada vez mais, articulados com os movimentos sociais, buscando protagonismo nas lutas da cidade e do campo. Maurício Souza, integrante da coordenação estadual da organização no Rio de Janeiro, vê na cidade um grande palco de lutas para os próximos anos. “No Rio, estão varrendo tudo o que não interessa. O objetivo é sustentar esse modelo de crescimento, esse desenvolvimento tardio que no Brasil se tem apregoado por todos os cantos, inclusive por certos setores que se dizem de esquerda. A UJC tem clareza de quem são os movimentos populares que lutam contra essa ordem, e está se unindo a eles”, diz. A luta por moradia e pelos direitos humanos têm sido os principais focos de atuação dos jovens comunistas.

Recentemente, tiveram importante atuação na organização do II Seminário da Plenária dos Movimentos Sociais. O espaço é uma articulação de movimentos populares mais combativos, em oposição ao modelo de desenvolvimento em curso no Estado do Rio, de forte ação predatória, e aos projetos elitistas relacionados aos megaeventos esportivos a ser recebidos no Brasil. O Seminário reuniu centenas de militantes interessados em dar unidade à difícil resistência prevista para os próximos cinco anos. “O diagnóstico coletivo, na Plenária, foi correto, sobre essa agenda econômica de estruturação do capital – a ideia de que existe um consenso burguês, e de que o Rio está no centro dele. Mas a gente não pode ter a ilusão de que, porque o diagnóstico está correto, a gente vai ganhar as lutas. A correlação de forças, aqui no Rio, infelizmente é bastante desfavorável para os movimentos e partidos de esquerda”, defende Luís.

Outra luta importante em que a UJC esteve presente foi a resistência dos moradores do Complexo do Alemão aos saques, agressões, humilhações e estupros promovidos pelas forças policiais e militares, após a ocupação de 2010. A organização esteve presente na coleta de denúncias, na sistematização dos dados, na publicização das informações, e na divulgação de uma nota pública. “A partir das denúncias que estavam sendo feitas, a gente foi até as comunidades. A cobertura oficial estava homogeneizando as coisas, como se a operação tivesse sido um sucesso. No Complexo do Alemão, a gente ouvia os policiais dizendo que era um modelo a ser levado para todo o Brasil. Achavam um sucesso”, afirma Fernanda Macharet, que também integra a coordenação estadual. “Surge, então, a partir da articulação com entidades de direitos humanos, a necessidade de fazer alguma intervenção. Divulgamos o relatório e a nota pública. Foi a partir disso que a imprensa começa a denunciar policiais envolvidos com corrupção. Geramos algum movimento do Estado”, completa.

Mais do que um partido de bermudas

Talvez devido ao doloroso processo de fragmentação que sofreram ao longo de vários anos, os jovens comunistas têm uma visão madura de sua nova inserção no processo político. Afirmam que reivindicam tanto os acertos quanto reconhecem os erros da organização, e do PCB, ao longo da História. Até porque, como fazem questão de frisar, a UJC esteve envolvida nas mesmas polêmicas do partidão – como o posicionamento quanto à adesão ou não à luta armada, nos anos 1960. “A gente não tem mais aquela ilusão de que os partidos comunistas sejam os portadores da verdade no processo revolucionário”, explica Luís Fernandes. “Mas permanece o sentimento de que o socialismo é uma necessidade concreta do movimento da humanidade. A solução para os problemas sociais, econômicos, ambientais, culturais perpassa pela criação de uma nova fórmula de organização da vida”, diz.

Por isso, uma nova forma de atuação da UJC é construir projetos de intervenção em conjunto com os movimentos sociais. No universo acadêmico, eles estão desenvolvendo o Universidade Popular. “Estamos construindo esse projeto ouvindo os mais diversos setores”, explica Fernanda Macharet. Entretanto, inserem seu planejamento num tipo de militância que, dizem, se diferencia da linha de outras organizações ligadas a outros partidos. “A nossa diferença de intervenção é tentar construir um projeto para além das demandas imediatas do estudante”, explica Luís. Dessa articulação com outros setores, sonham construir a mesma frente antiimperialista e anticapitalista, de caráter contra-hegemônico, que o PCB tem defendido desde as eleições presidenciais de 2006.

Mesmo na maneira como se articulam com os movimentos, não buscam o mesmo protagonismo do passado. “A gente não tem a pretensão de ser o dono do processo. Temos que conhecer essas lutas, e fazer a mediação com a nossa linha estratégica, que é de ruptura. É assim que tentamos nos articular com os movimentos sociais nas diversas frentes”, defende Maurício Souza. Os jovens se organizam de forma diferente do partido. Não têm um secretário geral, mas uma secretaria geral colegiada, nacional. “Não é um minipartido político. A gente tenta ter outro formato. Temos os nossos núcleos, e as lutas transversais – o militante que atua junto ao MST, o que está na luta pela moradia, pelos direitos humanos, etc”, afirma Luís. A julgar pela alegria como expõe sua estratégia, seu avanço político não tende a ser um voo de galinha.

A tradição do jovem

Fundada em agosto de 1927, a UJC foi a primeira organização da juventude de esquerda da História do Brasil. Com influencia crescente, vai ter uma atuação importante no processo de formulação da União Nacional dos Estudantes (UNE). Basta dizer que o único fundador vivo da UNE é Irun Santana, ex-integrante da UJC. A juventude comunista começa, então, a elaborar um esboço de formulação sobre a realidade brasileira. Logo em 1928, organizam seu primeiro congresso. Já era, desde o início, tempo de forte repressão por parte do Estado contra o comunismo. Os anos se seguem e a história da juventude do partidão será sempre de altos e baixos. Ora governos reprimem e levam a organização à fragmentação, ora eles ser articulam e retomam força.

O momento de maior estrangulamento é a década de 1970. Após a forte repressão por parte da ditadura civil militar (1964-1985), o partido tem grande dificuldade de se manter – sobretudo de organizar sua juventude. Nos anos 1960, a formação do PCdoB – e sua União da Juventude Socialista (UJS) – já fragmentara a luta comunista. E em 1992, com o revés soviético, a maioria dos dirigentes do PCB decide fundar um novo partido. Surge o Partido Popular Socialista (PPS) – que hoje, na oposição ao governo Dilma, se alinha com o PSDB e o DEM. Debilitado, o PCB começa a articular seu erguimento. O consenso neoliberal do período, entretanto, freia maiores voos. É apenas na década de 2000 que ele se reestrutura. A UJC ganha fôlego novo a partir de 2006. Para o próximo congresso, em 2012, prevêem mais de 300 delegados. Estão convictos de que dias melhores estão guardados para o futuro.


O texto "O comunismo jovem do Partidão" foi originalmente publicado no site Fazendo Media: http://www.fazendomedia.com/o-comunismo-jovem-do-partidao/